quarta-feira, 18 de maio de 2011

Asfalto quente


Asfalto quente

Um palmo de língua pra fora
Do cachorro que procura a sombra
De um pé de Jorge Tadeu salvador.
Celulites convidativas
Espremidas em shortinhos coloridos
Queimando sob o abafado selim
Da bicicleta que desce veloz.
O pneu careca esfumaçado
Rolando por cima do gato
Que errou o tempo da travessia.
Seu espinhaço torto
Terminando de bolar na quentura,
Correndo de “revestrés”
Rumo ao PVC que serve de escape
Para a água da chuva que não vem.
O menino com a frauda na cabeça
Cochilando no ombro da mãe que derrete.
Um cuspe branco disparado em bala
Efervescendo no meio-fio
Pela ausência de tira-gosto.
Um cavalo com o lombo brilhoso
Puxando a carroça de dois insetos suados.
O sol refletido no retrovisor
Da reluzente Ranger
Radiando o rosto de Renatinha.
A caçamba que segue fervilhando
Numa imagem cozinhante
No limite horizontal da visão.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Grupation seletation muito caration

Grupation seletation muito caration

Quando eu era menino, pequenininho, eu queria ser metaleiro. Confesso que achava massa toda aquela estética metaleira. Ante-ontem eu estava em um evento metaleiro. Foi divertido. Lembrei de minha juventude e constatei: Ser metaleiro custa caro em Imperatriz, tanto pro homem quanto pra mulher. Digo isso quando se quer ser um membro seleto de metaleiros seletos. Você tem que comprar alguns adereços indispensáveis para se infiltrar no seleto grupo de metaleiros seletos.


Espartilhos de couro negro evidenciando a fartura dos seios - ou pelo menos tentando levantá-los, jaquetas cheias de correntes sadomasoquistas, meias-calças bem ornadas, imensas botas estilo Blade o caçador de vampiros, calças de couro espoca ovo, vestidos saidos de figurinos dos filmes 3D do Tim Burtom e por aí vai. Tem que cuidar do cabelo e isso gasta muito. É um saco. Não gosto de cabelo. Mas, tem que ser. Com um cabelão bem cuidado você fica mais metaleiro ao balançá-lo como um calango na beirada do palco.


Há, também, a questão dos cintos com balas e das camisetas. Acho que você tem que adquirir o máximo de camisetas de bandas desconhecidas. Quanto mais desconhecida, mais respeito você adquire. Não basta ter só do Iron Maidem, Metallica ou do não sei o quê Death. E isso não se vende aqui na Imperosa. Tem que comprar na internet e é caro. Mas, tudo bem, se você se propõe a ser um metaleiro seleto que irá fazer parte de um seleto grupo de metaleiros seletos. Isso quer dizer que você tem grana pra pegar um vôo pra Brasília e fazer compras em shops especializados em adereços de metaleiros seletos.


Existe uma outra problemática à cerca do fato de se não poder fazer parte desse seleto grupo; metaleiro que não faz parte desse seleto grupo não pega mulher. Isso é fato consumado! Tem que estar nesse seleto grupo com todos esses apetrechos e trejeitos, se não, terá que pegar emprestado a ideologia punk e "fazer você mesmo". Isso significa que você terá que ir na loja Marisa comprar uma jaqueta jeans de R$ 49,90, arrancar as mangas, enche-la de estampas do Eddie, bater cabeça, beber até cair curtindo seu pen drive cheio de poder e se contentar com a velha punheta no dia seguinte.