Asfalto quente
Um palmo de língua pra fora
Do cachorro que procura a sombra
De um pé de Jorge Tadeu salvador.
Celulites convidativas
Espremidas em shortinhos coloridos
Queimando sob o abafado selim
Da bicicleta que desce veloz.
O pneu careca esfumaçado
Rolando por cima do gato
Que errou o tempo da travessia.
Seu espinhaço torto
Terminando de bolar na quentura,
Correndo de “revestrés”
Rumo ao PVC que serve de escape
Para a água da chuva que não vem.
O menino com a frauda na cabeça
Cochilando no ombro da mãe que derrete.
Um cuspe branco disparado em bala
Efervescendo no meio-fio
Pela ausência de tira-gosto.
Um cavalo com o lombo brilhoso
Puxando a carroça de dois insetos suados.
O sol refletido no retrovisor
Da reluzente Ranger
Radiando o rosto de Renatinha.
A caçamba que segue fervilhando
Numa imagem cozinhante
No limite horizontal da visão.