Metal nas entranhas
O show tinha acabado. Ele gostou. Na verdade ele adorou. Mesmo que a banda fosse do interior. Ele viajou. Era black metal crú. Bem nórdico. Bem true. Tomava o resto da latinha já em caldo. A cabeça cabeluda latejava. De tanto bater no vácuo. Um amigo bateu em seu ombro.
"Ê, lôco, tamo indo pra casa do maluco, alí. Os coroa dele viajaram. Tem mêi mundo de cerva, lá. Vamo nessa?"
"Não. Vô vazá. Tu tá com a tua chave?"
"Tô."
"Falô. Vô pegá um moto-rela." Chegou no apartamento. Tomou um banho. Não limpou a sombra borrada nos olhos. Gostava de dormir assim. A mórbida aparência matutina lhe agradava. Lhe inflamava o narcisismo grotesco. Comeu um resto de macarrão esquecido na geladeira. Foi para o quarto. Sem sono, ainda. Pôs um vinil do Marduk. Acendeu um cigarro. Deitou-se no colchão estendido no chão. Distraiu a vista no rodar do disco. Aos poucos, uma fumaça azulada começou a sair do centro do disco. Tinha o formato de um pênis. Ereto. Ele achou que o toca-disco estivesse queimando. A música continuava. Distorcida. Normal. Ele olhava o pênis esfumacento que ia se alongando. Cegando perto do teto. Ereto. Olhava sem ação. A forma fálica começava a mudar. Dando espaço à uma figura humana. Alta. Magra. Ereta. Era um homem. Jovem. Desceu do toca-disco. Lentamente. Tina um rigidez estranha no semblânte provocativo. Ele olhava espantado.
"Mas, que diab...?"
"Eu mesmo. O próprio."
"Como assim?"
"Ora, como. Desde tua adolecência que tu me canta. Me tenta."
"Eu nunca pensei que..."
"Mas, sempre me clamou, não?"
"Mas era só..."
"A vontade. Ela é foda quando profunda."
"Bicho, eu não tô acreditando nisso. É muita viagem."
Pegou o celular. O amigo que dividia o aluguel tinham que ver aquilo. O estranho visitante estendeu a mão. De sua palma saiu uma rubra chama vermelha. Tinha a forma de um pênis. Ereto.
"O que é isso?"
"Conhecimento. É por isso que eu vim."
"Não tô sacando."
"Tu sempre levou um estilo de vida no qual me adorava. Resolvi vir aqui te dar conhecimento."
"Como?"
O visitante o pegou pelo braço e o virou de costas. Encostou-se por traz. Sussurrou. O bafo era quente e perfumado.
"Tu me adora realmente?"
"Pode crê!"
"Quer o meu conhecimento?"
"Quero!"
Nervoso, ele fechou os olhos. A curiosidade era quase infantil. sua cueca estava nos tornozelos. Não percebeu. Sentiu um leve vapor gélido lhe pressionando as pregas do ânus. As pernas começaram a tremer. O visitante o segurava firme. O vapor ia se alargando e esquentando. Tentou sair daquela experiência sufocante. Mas, o visitante o segurava firme. O vapor tornava-se denso. Materializava-se. Ereto. Lhe ardendo o reto. Entrava e saia com veracidade. As estocadas lhe vertiam lágrimas angustiantes.
Tentava gritar. Abafo. O quatro parecia esquentar como um forno de cerâmica. O som do toca-disco parecia aumentar, mais e mais. Marduk inalado com o gemido animalesco do estranho. Castigando seus tímpanos. O colchão ardia juntamente com suas pregas. As estocadas aumentavam a velocidade. Era como ferro em brasa rasgando seus músculos anais. Sentido a enorme extremidade roçando suas tripas.
Aos poucos, foi cessando aquele vai-vem lacinante. Caiu de joelhos. Sentiu uma forte rajada liguenta que escorria pelas coxas. Já não estava mais tão quente, ali. A dor lhe penetrava até a medula. O corpo todo tremia, tamanho era o trauma.
O amigo chegava da tal festa. estava meio bêbado. Conversava sozinho. Abriu a porta do quarto e se deparou com uma cena lastimável; o amigo de quatro com o rosto enterrado no colchão. Chorando. Tremendo. Soluçando. Estava nu da cintura para baixo. A bunda magra apontada para cima. De frente para ele. O ânus vermelho. Melado. Um grotesco diafragma dilatado. Marduk continuava rolando no toca-disco.
"Caralho! Que merda é essa?"
"O sangue de jesus tem poder!"
"O quê, rapá?"
"O sangue de jesus tem poder!"
"Como...? Que porra é essa...?"
"O diabo comeu meu cú!"