terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Manhã de natal

Manhã de natal

  
  De quando em quando, meu espírito natalino se esbarra em alguma tragédia natalina. Geralmente, tais fatídicos letais me vêem com o perfume de sangue e álcool.

Há alguns natais, um conhecido meu esfaqueou dezenove vezes sua esposa numa esquina perto da minha. "Vô matá o diacho dessa muié", resmungou para o dono do bar. O velho Demar. Quem acreditaria em um bêbado de saco cheio de sua companheira?

A manhã de natal desse resto de 2010 foi perfumada com essa peculiar e soturna fragrância traumática. O perfume exalou-se e resvalou-se de forma ainda mais penetrante devido a umas das faces vergonhosas de nossa grande Imperaprovíncia.

Eram nove da manhã. O cara vinha pela Aquiles Lisboa. Vinha em sua Titã envenenada pelo peso de sua aceleração frouxa. Vinha "vuado" como quem vem do "pêxe pôde". Livremente varando os cruzamentos com o poder concebido pelos festejos natalinos. Não conseguiu varar um evangélico Gol branco que vinha em sua preferencial, como quem vem do bar do Gil, na Godofredo Viana. O seu poder de liberdade motorizada não conseguiu varar a porta do evangélico Gol que vinha em sua tranqüilidade. Seu capacete desafivelado ejetou com o forte impacto, abandonado sua cabeça para o rijo asfalto quente.

Ossos estalaram com o forçado pouso em frente ao bar-restaurante-meu escritório Mustang Drink's. Agonizou por alguns instantes em meio ao sangue borbulhante que brotava de sua garganta relutante. Por poucos instantes, até morrer no meio da rua, em frente o lugar onde, pouco antes, bebíamos com o velho espírito natalino. Não havia ninguém na solidão daquele cruzamento em repouso até ser ornado pela mistura de cores entre a Titã envenenada, o evangélico Gol, o sangue alcoolizado e o rijo asfalto quente.

É como se o sangue de um acidente acionase a sede ocular dos plebeus. O enxame chegou rapidamente para o espetáculo horrendo. Aglomeraram-se com uma ânsia de asco sem saberem que aquilo tudo iria demorar por muito tempo. A policia estava lá. Mas, só estava apenas. Os enxames iam se revezando na medida em que o sol ia esquentando e a poça de sangue ia coagulando. O Mustang teve que fechar as portas. Não tinha como os clientes cearem com a imagem de um cara que "morreu na contramão atrapalhando o tráfego."

As horas iam passando. O sol ia secando o couro morto do infeliz. Já estava dando meio-dia. A mãe e a esposa não suportaram ver o querido ente jogado no meio da rua como um presunto de natal servido para a fomentação ocular das platéias que iam e vinham. Uma senhora teve o bom senso de por um lençol sobre o cadáver todo quebrado.

As horas passavam. O mau cheiro começava a dar o ar da desgraça. Já eram quase três da tarde. A exposição continuava a fadigar. As autoridades alegaram que o Homen ainda estava ali pelo fato de o IML só ter uma viatura  que estava ocupada no município de Boritirana. Só uma viatura. Para atender a nossa grande Imperaprovíncia. Um ser humano, pagador de impostos, humilhado até depois de morto, servindo de carne de sol para quem quisesse ver. Enquanto isso a governadora, em nome de toda a sua famiglia, deseja um feliz natal e um próspero ano novo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Numa esquina de Itapuã

Numa esquina de Itapuã

Três bucetas cochichavam, entre si e suas sonoras gargalhadas, no bar da esquina.  Vinícios e Toquinho trilhavam a melodia do momento, acentuando com o vento vespertino o agradável gosto da conversa. 
Uma tinha os lábios guardados por um capô de couro macio e fresco, ornado por um filete de finos fios sedosos. Tinha o seu perfume jovial e uma quentura morna por ficar sempre oculto em seu carnal invólucro infante.  Quando em desabrocho pela alegria salivante, revelava um tom levemente roxeado e reluzente.
A outra possuía uma hidratação menos vivaz. Tinha uns pelos rasteiros e espalhados por todo o seu redor. Não se importava com algumas críticas corriqueiras por parte de algumas "descoladas". Possuía um escurecimento natural nas bordas das expressivas dobras sem ofender a estética de sua forma em um plano geral. Era segura de si. Gozava de algumas experiências pouco convencionais.
A terceira era desprovida de sua pelagem púbica, revelando uma ressequida flacidez de explícitos esfomeamentos fálicos. Carregava uma elegância levemente vulgar nos róseos beiços caídos e enrugados. Assemelhava-se a uma goma de mascar já seca, sabor tutt-frutt, cuidadosamente perdoada por incontáveis carnavais.
Conversavam livremente. Pegando um tímido vento. Riam para o descompromisso. Riam entre si. Para o vespertino vento que cortava sorrateiramente a esquina do bar.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um Golf, os músculos e os lisos

Um Golf, os músculos e os lisos

Eu tenho um Golf. Depois de muitas birras, fiz meu pai financiar um no sistema "pescoço- quebrado". Foi o jeito.
Eu malho. Malho pra caralho. Malho a noite. É melhor. A galera do judô aparece em peso. Daí o parangolé rola na alta. Depois de suar muito, até as veias dos nossos braços e pescoços ficarem nojentamente inchadas, agente fica na calçada da academia sem camiseta tomando latinha, gritando juntinhos e rebolando igual um bando de  gogoboys homossexuais encubados. Ao som de Parangolé, é claro. Rebolation na mente, caralho! Às vezes, quando termino de malhar, caminho em frente a Faculdade com meus braços abertos protegendo meu ego, semelhante a uma galinha choca protegendo seus ovos. Bem abertos como se meus sovacos estivessem assados. Dou a volta no quarteirão e entro no meu Golfão.
Quando rebolo sem camisa, fico secando meus bíceps com os olhos. Observo as panturrilhas dos meus colegas musculosos. As minhas são bem mais definidas.
Meu Golf é rebaixado. Tem rodão aro 19 e teto solar. Botei um néon azul dentro dele. Minha corrente de aço de meio kg e minha regata branca da dzarm ficam brilhosas, esticadas pelos meus peitos espocados. Meu braço é grosso. Todo repartido. Ele tem uma tatuagem. Um dragão cuspindo um fogão. Ele é miseravão igual meu Golf turbinado. Gosto de pôr meu braço miseravão pra fora da janela do meu Golf.
Dirijo meu Golf a dez por hora quando passo em frente às peixarias, os bares e onde tiver aglomerações de piriguétes e lisos pra me contemplar enquanto passo a dez por hora com meu braço parrudo e tatuado pra fora da janela do meu Golfão tunado, rebaixado, rodão aro 19, com néon azul e teto solar.
Costumo entupir ele de colegas de malhação. Todos musculosos. Agente passa meia hora bagunçando o cabelo até ficar show. Aí, ponho 50 cents no máximo. Gosto quando a lataria do Golfão fica tremendo e os pára-brisas faltam sacar fora. Gosto do som assim. Tão alto que nem eu consigo entender, quanto mais os lisos. A agente fica com os braços pra fora da janela do meu Golf tunado, rebaixado, rodão aro 19, teto solar, iluminado por dentro com néon azul e fazendo cara de puta mal chupada. Agente pára num bar lotado pra comprar latinha e trident de canela. Ponho Luan Santana e saio fazendo a panca, cantando pneu e arrancando com força pra depois diminuir pra dez por hora. As piriguétes são só um detalhe diante de mim e meus musculosos colegas de malhação.
Gosto de me masturbar todo nu na frente do espelho. Sofro de ejaculação precoce por ficar secando os meus músculos em frente o espelho. Não cosigo segurar quando me olho todo repartido. Quando gozo é o bicho. Meus músculos se dilatam e as veias faltam espocar. Só é foda porque minha mão cobre todo o meu pinto duro. Eu nem consigo ver ele quando bato uma. Mas, tudo bem. Sou todo musculoso e tenho um Golf tunado, rebaixado, com rodão aro 19, néon azul e teto solar.      

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Arnaldoporcantunêsco

   Arnaldoporcantunêsco

 O porco.
 O pinto.
 O parafuso.
 A porca.
 O pinto do porco
 é o parafuso na porca. 
 A porca do porco
  é a puta no parafuso.
  O parafuso do porco
  tem a porca no pinto.
 A porca no parafuso
  é a puta no porco.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Metal nas entranhas

Metal nas entranhas

O show tinha acabado. Ele gostou. Na verdade ele adorou. Mesmo que a banda fosse do interior. Ele viajou. Era black metal crú.  Bem nórdico. Bem true. Tomava o resto da latinha já em caldo. A cabeça cabeluda latejava. De tanto bater no vácuo. Um amigo bateu em seu ombro.

"Ê, lôco, tamo indo pra casa do maluco, alí. Os coroa dele viajaram. Tem mêi mundo de cerva, lá. Vamo nessa?"
"Não. Vô vazá. Tu tá com a tua chave?"
"Tô."
"Falô. Vô pegá um moto-rela."

Chegou no apartamento. Tomou um banho. Não limpou a sombra borrada nos olhos. Gostava de dormir assim. A mórbida aparência matutina lhe agradava. Lhe inflamava o narcisismo grotesco. Comeu um resto de macarrão esquecido na geladeira. Foi para o quarto. Sem sono, ainda. Pôs um vinil do Marduk. Acendeu um cigarro. Deitou-se no colchão estendido no chão. Distraiu a vista no rodar do disco. Aos poucos, uma fumaça azulada começou a sair do centro do disco. Tinha o formato de um pênis. Ereto. Ele achou que o toca-disco estivesse queimando. A música continuava. Distorcida. Normal. Ele olhava o pênis esfumacento que ia se alongando. Cegando perto do teto. Ereto. Olhava sem ação. A forma fálica começava a mudar. Dando espaço à uma figura humana. Alta. Magra. Ereta. Era um homem. Jovem. Desceu do toca-disco. Lentamente. Tina um rigidez estranha no semblânte provocativo. Ele olhava espantado.

"Mas, que diab...?"
"Eu mesmo. O próprio."
"Como assim?"
"Ora, como. Desde tua adolecência que tu me canta. Me tenta."
"Eu nunca pensei que..."
"Mas, sempre me clamou, não?"
"Mas era só..."
"A vontade. Ela é foda quando profunda."
"Bicho, eu não tô acreditando nisso. É muita viagem."

Pegou  o celular. O amigo que dividia o aluguel tinham que ver aquilo. O estranho visitante estendeu a mão. De sua palma saiu uma rubra chama vermelha. Tinha a forma de um pênis. Ereto.

"O que é isso?"
"Conhecimento. É por isso que eu vim."
"Não tô sacando."
"Tu sempre levou um estilo de vida no qual me adorava. Resolvi vir aqui te dar conhecimento."
"Como?"

O visitante o pegou pelo braço e o virou de costas. Encostou-se por traz. Sussurrou. O bafo era quente e perfumado.


"Tu me adora realmente?"
"Pode crê!"
"Quer o meu conhecimento?"
"Quero!"

Nervoso, ele fechou os olhos. A curiosidade era quase infantil. sua cueca estava nos tornozelos. Não percebeu. Sentiu um leve vapor gélido lhe pressionando as pregas do ânus. As pernas começaram a tremer. O visitante o segurava firme. O vapor ia se alargando e esquentando. Tentou sair daquela experiência sufocante. Mas, o visitante o segurava firme. O vapor tornava-se denso. Materializava-se. Ereto. Lhe ardendo o reto. Entrava e saia com veracidade. As estocadas lhe vertiam lágrimas angustiantes.
Tentava gritar. Abafo. O quatro parecia esquentar como um forno de cerâmica. O som do toca-disco parecia aumentar, mais e mais. Marduk inalado com o gemido animalesco do estranho. Castigando seus tímpanos. O colchão ardia juntamente com suas pregas. As estocadas aumentavam a velocidade. Era como ferro em brasa rasgando seus músculos anais. Sentido a enorme extremidade roçando suas tripas.
Aos poucos, foi cessando aquele vai-vem lacinante. Caiu de joelhos. Sentiu uma forte rajada liguenta que escorria pelas coxas. Já não estava mais tão quente, ali. A dor lhe penetrava até a medula. O corpo todo tremia, tamanho era o trauma. 
O amigo chegava da tal festa. estava meio bêbado. Conversava sozinho. Abriu a porta do quarto e se deparou com uma cena lastimável; o amigo de quatro com o rosto enterrado no colchão. Chorando. Tremendo. Soluçando. Estava nu da cintura para baixo. A bunda magra apontada para cima. De frente para ele. O ânus vermelho. Melado. Um grotesco diafragma dilatado. Marduk continuava rolando no toca-disco.

"Caralho! Que merda é essa?" 
"O sangue de jesus tem poder!"
"O quê, rapá?"
"O sangue de jesus tem poder!"
"Como...? Que porra é essa...?"
"O diabo comeu meu cú!"       

sábado, 27 de novembro de 2010

Pausa para o lanche

Pausa para o lanche


"Cadê o cigarro pra misturá?"
"Tô parano de fumá cigarro!"
"Porra, arrochá essa brita na lata é foda. Tamo de serviço, jogadô."
"Pió. Vô comprá alí, na esquina."
"Demora não, porra. É sábado e tem muita ocorrência, nessa merda. Nós tamo vacilano."
"Calma, juvenil. É ligêro."
"..."
"Bóra, rapá, bóla logo essa merda."
" Que... que hora é aí?"
"Dez e mêa, porra!"
"Re... relaxa, moço. Tá tran... tranquilo. Pega."
"Cadê a tua... a muié?"
"Tá c'os minino lá  na casa da mãe dela. Sim,  e tu num vai passá a bola não, britêro?"
"Pe..peraí, porra!"
"Êita, buceta, o rádio tá chamano."
"Va.. vai lá logo."
"Num vai matá a parada não, nojento."
"..."
"E aí?"
"A porra duma ocorrêcia, alí, duns vagabundo que assaltaro um casal, parece."
"Ai ai ai."
"O cara assaltado é PM do Pará. Parece que apagô um meliante e tem ôto pra gente recolhê."
"Meu zóvo, mermo. Pega, fuma logo... Esses vagabundin roba qualqué merda só pra fumá pedra."
"Pi...pió que é. Vam... vamo lá."
"Porra, tu num dexô nem o restin pra mim!"
"Ahhh, jogadô. Vai te lascá. Tu fumô mais que eu."
"Tu num disse que tinha duas cabeça guardada?"
"Tu ainda qué mais, nogento?"
"Nã, moço, só tô falano. Bóra resolvê a merda lá."
"Parece que tinha ôto  elemento que fugiu. Num intendi direito, não."
"Era três e morreu um?"
"Parece que é."
"Vai fumá pedra no inferno, o nojento."



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Lapada de mau gosto

Lapada de mau gosto

O cara estava meio que fudido e saiu de Imperatriz para tentar uma vida melhor em São Paulo. Recebera o convite de um primo da rapariga de um cunhado seu. Ele foi. Ao chegar na entupida metrópole, recebeu as boas novas de que estava marcada uma entrevista de emprego para ele numa pizzaria de um italiano qualquer da Moca. Ele foi. Chegou cedo no tradicional recinto. O gerente o recebeu.

"De onde você é, mesmo?"
"De Imperatriz!"
"Impera...?"
"Do Maranhão!"
"Do Mar... ?"
"É onde é a capital da  pistolage, onde o minino pulô da ponte e disapareceu e um cientista curandêro inventô uma pumada da cura  feita de graviola!''
"Ahhh, sim. Eu sei, eu sei onde é."


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A mesma "Ladainha"

 
A mesma "ladainha"

Ele estava sentado. Bem acomodado na cadeira de macarrão, de tardezinha, na calçada. Do lado da sombra. Sentia um leve cansaço latejante nas pernas. Não fizera nada em suas férias desperdiçadas. Só coçava os ovos assstindo o movimento da rua.
 Viu duas garotinhas vindo lá da esquina. À pé. Acompanhou a aproximação das duas. Uma era magrinha, vinha pela beirada da calçada. Meio alta, branca. Tinha o cabelo castanho preso. Vinha com um vestidinho fino e amarelo. A outra era um pouco mais baixa. Vinha pelo acostamento. Morena. Meio robusta da cintura pra baixo. Cabelos bem longos. Negros. Cortinando as costas nuas. Vestia um short de algodão branco. Bem curto.
 Ele recostou-se nos macarrões da cadeira. As formas das ninfetas já estavam bem nítidas no enquadramento de seus óculos cuidadosamente aprumados. Elas vinham dando pequenas gargalhadas.
Dois moleques vinham numa bicicleta, lá atrás. Rápido. Aproximaram-se delas, rápido. Ficaram rente a do acostamento. A do shortinho de algodão. O da garupa lhe desferiu um estalado tapa. Na bunda. Ele ouviu um estalo estridente de bunda se espalhando como ondas pelo quarteirão. Um estalo que lhe tirou a concentração. Os moleques gritaram de excitação. Passaram em sua frente.
 Por um  súbito impulso, ele rebolou a cadeira de macarrão no pneu dianteiro da bicicleta. Os dois caíram no meio da rua. Ele se aproximou. Pegou os dois pelo pescoço. Sua mulher saiu na porta com os filhos curiosos. Espantaram-se com a cena. O que é que tá conteceno?, perguntou ao marido com os dois gravetos pasmos  nas mãos. Esses bosta, aqui, que passô bateno na menina ali.
 Envergonhadas, as garotinhas voltaram pelo mesmo rastro em passos apertados. Soltou um e apertou ainda mais o pescoço do outro. O autor do feito “abominável”. Tu ainda vai fazê isso, moleque?, perguntou cerrando os dentes. Vô não, moço, respondeu engasgando-se com a resposta. O menino estava apavorado. Os dois tremiam. Larga ele. Tão pra se cagá nas calça, pediu a mulher com penosamente. Ele o largou dando-lhe uma bofetada na cabeça. Os moleques pegaram a bicicleta e disparam como um raio.
Acalmaram-se os ânimos. Entraram na casa. O  que foi aquilo, pai, perguntou um dos filhos. O moleque passô e deu um tapa na bunda da minina, vê se pode uma coisa dessa?! O sujeito tem que sê homi. É isso que eu ensino pra vocês todo dia. Os filhos fingiam ouvir a mesma “ladainha” de sempre.
Foi para o banheiro. Lavou as mãos. Sentou no vaso. Lembrou da morena. Baixou as calças. Começou a agitar o vai-vem. Lembrando o estalado da bunda que ecoou na rua. Acelerou o vai-vem no membro petrificado. Tentando visualizar a bunda se espalhando em ondas no seu imaginário. Tentando ouvir o eco da bunda se espalhando em ecos pelas paredes do banheiro banheiro.   

sábado, 13 de novembro de 2010

Unidos da Praça União

Unidos da Praça União

Depois do último e definitivo ensaio naquela manhã quente, todos estavam tomados por uma euforia embriagante. A Praça União nunca era a mesma no período de carnaval. Lambau, já suando o couro da testa, a toda hora trotava a passos largos da quadra da praça ao balcãozinho do Pêxe pôde com uma agonia assolando o juízo. Ê Lourival bota dois dedin de casca de laranja que minha flora intestinal sofreu um pequeno inchaço, disse dando três tapinhas no bucho de mampará. Na verdade ele estava preocupado com um possível erro do Josélio, o mestre-sala e Gracinha, a porta-bandeira, já que estes estavam entornando desde cedo.

Josélio não parava de abordar um à um ali presente perguntando se o sistema estava on line  ou off line. Era como uma formiga que vem no sentido contrário da fileira de formigas que vão trabalhando. Quicava incansavelmente com seu piseiro agoniado entre assovios e gemidos etílicos. Gracinha, nossa gloriosa porta-bandeira, abanava a quentura com um pedaço de papelão enquanto esfriava o fato com cerveja no balcãozinho do Lourival, degustando Alcione com carne de sol e farinha de puba. Chico do teatro a acompanhava em cerveja separada no seu sistema bico seco.

Porra, cadê o Miltão pra organizá o pessoal da bateria? Gritou o Lambas, precisando de mais dois dedinhos de casca de laranja. Nunca se via tanto menino fazendo zoada na praça, com confetes e papel mache. D’onde diabo sai tanto minino? Moooço, é o cão, mermo. Num tem diabo no mundo que dê conta de minino, resmunga Cosme empurrando uma dose de imbiriba e tirando o gosto com um Derby prata. Raimundo Abílio, o pêxe pôde pai, assava lingüiça e bisteca para os curiozeiros e jogadores de baralho que acumulavam latinhas de cerveja debaixo dos pés de manga e amêndoa. Cigarro, cigarro, cigarro, metralha Magal em todos os cantos da algazarra. Robério tomava vinho com o Maciel, o rei mômo, enquanto escovava seu velho traje de gala. 

A simpatia da grande Edinalva estava meio ofuscada por ter trazido tambaqui cozido numa panela para o seu Xexéu que se vangloriava bêbado com um enorme chapéu fedido para as menininhas por ter feito a letra do samba da escola. Ó quí, minhas lindas, fui eu quem compus essa obra de arte sobre os pescadores e o nosso farto Tocantins, dizia quase esfregando a barba enferrujada no rosto delas. E fui eu quem botô a melodia e vô puxá o samba, colocou o Boca de mel chegando por traz com a cara mais limpa tentando impor um galanteio mais ordinário ainda.

Umbora, minha gente, regia o mestre de bateria Miltão com os braços abetos em y e uma jinga bem malandra importada da lapa . A batida ecoava organizada com Camalião, Foba, Ivaldo cabecinha e os demais. Todos animadinhos com a mais nova madrinha da bateria, a estonteante Neta. Claudeci filava junto com  James, na surdina, o tambaqui cuzido da Edinalva. O finado Frederico abosava o Zé Alano  que dançava desconcertante, abraçado com seu buchão imponente.

Enquanto o Benzão, bem emputecido, era obrigado a ajudar a Jôsy com as fantasias, Lambau já encarcava de copo cheio a casca de laranja. Porra, Nenê, tu num foi atraz da Didi, não? Tô precisando dela. O Pedro Mário vai tá no júri e tu sabe que ele é nojento pra essas coisa, soltou o Lambas com perfume de casca de laranja embebedada. Peraí, doido, respondeu Nenê indo descarregar no mictório. O ânimo da mulecada ia se tornando morno, anunciando o sol baixo adentrando a boca da noite. O desfile estava próximo. A Praça Tiradentes já começava a lotar de  foliões.













sábado, 6 de novembro de 2010

Barras circulares

Barras circulares

Oito e meia da noite. Esquina meio escura. Tranqüilidade. Um bar no meio do quarteirão. Bicicletas escoradas na calçada alta da esquina. Barras Circulares. Duas. Lado a lado descansando. Pequena moita de silhuetas conversando. Nada demais.

- Ê, doido, vamo fazê uns e ôto, mais tarde?
- Pió!
- E tu, lôko? Tá calado aí, já tem umas zora. Umbóra?
- Nã, dêxe quéto. Tô cum um isquema duma gata lá na praça.
- Ahhh, muleque. Quem é?
- Né do cetô, não. É lá do coléjo.
- Sim, doido. É jogo rápido. E ainda tu vai tê o doido pá gastá cum a gata.
- Pió. Que hora?
- Mais tarde. Tá cedo ainda.

Nada demais. Silhuetas conversando. Lingüiças sendo enchidas na esquina meio escura. O casal de Barras Circulares em repouso. O bar no meio do quarteirão. Vomitando a já entojante “fazer o ‘P’”. Muitos Derbys do Paraguai já se foram. É nove e vinte.

- Vô pegá o ferro lá no quintal. Vamo apurá a diária pra comprá umas cabeça. A fissura já bateu.
- Demora não. Senão a mãe sai e começa a imbaçá.
- Aquela véa num dorme cedo? 
- Sim, porra, tá quase na hora da gata ir pá praça, também. E eu quero fumá uma cabeça primêro, pá ficá viajano nos peitin dela.
- Peraí. É rapidão, moço.

Quase dez. Barras Circulares tabalhando. Vagarosas pedaladas. Um em uma. Dois na outra. Olhos esbugalhados. Atentos a qualquer falta de respeito. “O povo já deve tá saíno da facudade, maluco”. Calor crescente. Suor escorrendo pelos braços. Molhando as mãos. Encharcando as luvas do guidão. Casal vindo pela rua. Abraçados. Tranquilidade. Situação estudada facilmente. Barras Circulares parando.

- Bóra, caralho. Cartêra e celulá. Ligêro, ligêro!
- Calma, jogadô.
- Que porra de jogadô, vagabundo. Passa as parada ligêro, merda.
- Pega da minina também, doido.
- Calma, calma. Agente vai dá de boa.
- Pois umbóra, caralho.
- Tá oiano o quê, muié?
- Passa logo esse otário, rapá.
- Calma, amigo. Tá tudo aí.
- Passa fogo nor dois.
- Vamo, vamo vazá.
-Num óia pra mim não, féla da puta.

Barras Circulares trabalhando. À todo vapor. Mãos tremulas. Adrenalina em danação. Casal respirando fundo. Mulher chorando. Tremendo. Namorado puxando um 38 do cóis da calça. O alcance ainda é bom. Barras Circulares trabalhando. Celulares e carteiras com o passageiro da garupa. Eco de um pipoco ao longe. Choque instantâneo nas costas. Um choque fino e penetrante. Mão levada às costas. dedo médio encontrando um pequeno buraco úmido. Barra Circular desequilibrando. Os dois caindo. O terceiro sumindo. sem olhar para traz. A  boca do  piloto de fuga se espalha no asfalto. Sangue, areia e um dente solto na boca. Tenta se levantar. Em vão. O cano do 38 já está em sua testa. Recebe um tapa no rosto. De mão aberta.

- Qué robá pulícia, caralho? Vô te dá um tiro na cara, nojento.
- Não cara, num atira, não.
- Bota a cara no chão, porra.

Respirando areia. O rosto suado no asfalto cheio de areia. Olhando o passageiro da garupa deitado. Um vermelhão nas costas. Empapando a camisa branca. Se mexendo lentamente. Procurado sentido naquilo tudo. Procurou o outro. Nada. Um carro para quase em cima. Pineu rente ao rosto. sentindo o cheiro do pineu queimado. A quentura do motor rosnando. Vários coturnos estralando no asfalto. Os braços sendo puxados pra traz. Algemas frias apertando os pulsos. Carregado de qualquer jeito. Rebolado no camburão. Sentindo o calor e o cheiro de sangue do passageiro da garupa. Silhuetas fardadas fechando a porta. Escuridão. O passageiro da garupa não se move, mais. só cheiro de sangue e silêncio abafado. Chora.

Barra Circular trabalhando ao máximo. Os para-lamas tremem cortando a quietude da madrugada. Ele já olha pra traz sem parar. Coração tamborila como maracatú frenético. Passa pelo bar do meio do quarteirão. Conhecidos bêbados aporrinhando o proprietário. A velha saideira. Passa direto. Olha o calçada alta. Diminui a velocidade. Em frente a sua casa. Imagina a mãe dormindo. Embrulhada no  fino lençol. aperta a pedalada. Passa direto. O suor lhe arde os olhos. Lembra da gata do colégio. Visualiza ela esperando no banco de cimento da praça. Tenta imaginar o  leve cheiro de sabonete nos pequenos peitos dela. "Era pra mim tá de boa chupanno os peitin", pensa. Pensa no pipoco lá atraz. No que está acontecendo. Pensa em vários absurdos enquanto some nas vielas do turvo.

Camburão sendo aberto. silhuetas fardadas. Carregado de qualquer jeito. Várias pernas zanzando. Luminosidade forte. Jogado de qualquer jeito. Passageiro da garupa não é tirado do camburão. Deitado no chão. Escrivão com cara de nojo. Pessoas passando. Ignorando. PMs aglomerados. Uma mulher brojando no balcão. Chorando. Um reporter noturno. Em busca dos fatos para o café da manhã. Se aproxima. Microfone roçando a boca inchada. Empueirada. Ensanguentada.  Luz forte esquentando sua pele suada. Cinegrafista sugando a agonia.  Porta entreaberta no corredor. Delegado cochilando na cadeira empenada. Sonhando com reporterzinha que se enrroscou no cano curto de sua arma.   

      

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vegas no tucupí

Vegas no tucupí

 No banheiro de uma ordinária casinha, não muito aconchegante, proxima ao mercado do Ver-o-peso, um velho enorme e gordo estava sentado no vaso arriando um barro escuro. Limpou-se, suspendeu a bermuda surrada e se pôs a olhar o quão era preto o barro arriado no fundo do vaso. "Ê açaí forte do caralho", pensou antes de puxar a descarga.
 Pegou o copo de uísque na pia e voltou  pra sala. Sentou na mofada poltrona. Silvio santos tagarelava na TV. Tirou as botinas que lhe apertava os dedos e beliscou a costela de uma pescada frita num prato em cima de um dos braços da poltrona. O gato estava sentado. Olhos vidrados no prato. Ele olhou ao redor. No chão. Levantou cada lado da bunda. "Cadê a porra do contole?". Odiava o Silvio e suas piadas com cédulas. "Prefiro a merda do Sulivan, apesar de ser um babaca fanfarão". Deu uma talagada no uísque e meteu o rabo do peixe na boca.

- Tu não vai pegar os pato, não?- gritou uma voz estridênte e envelhecida da cozinha.
Ele fez que não ouviu. Estava extremamente desgastado com aquele maldito ritual diário de matar patos para cozinhar no tucupí. Já odiava os patos. Odiava aquela vida de restaurante.
- Te levanta daí, homi. Para de bebê e vai matá os pato. Já tá ficando tarde e tem muita encomenda pra amanhã.- Reclamou a mulher aparecendo na frente do Silvio tagarelando piadas em cédulas.

Ele baixou a  cabeça e coçou as costeletas grisalhas. A careca estava vermelha e banhada de suor. Nem ousou olhar no rosto daquela mulher com um avental encardido e uma aparência encardida pelo tempo e pelo trabalho. Respirou fundo.
- Já vou. Tô terminando, aqui.
- Ah, tá. Como se isso terminasse algum dia.
- Relaxa, baby, eu...
- RELAXÁ? Eu tenho que dá conta de tudo nessa casa e no restaurante. E tu só fica bebendo e se entopindo de comida. Pra se levantá é a maior luta do mundo. 
Ele encheu o copo e afundou na poltrona. Ela se sentou na cadeira e continuou:
- Tu pensa que eu não sei que todo dia tu fica se martirizando pelo passado? Tu tá velho, homi. Já passou. Sei que me odeia por isso, mas eu não tenho culpa. Eu não te obriguei a forjar a própria morte pra vim pra cá torrá todo aquele dinheiro com besteira. Tu que dizia que tava cansado daquela merda toda.
Levantou-se e foi pra cozinha ver as panelas. Ele foi mijar. Na volta viu o controle. Mudou o canal. Caiu no fantástico. Um palhaço sorridente apresentava o novo clip do Zezé di Camargo e Luciano com um cantor estrangeiro. Era um velho camado Willie Nelson. Cantavam Always On My Mind. Era o fim da picada pra ele.
- Vamo, homi, tá ficando tarde!- gritou a mulher cortando as verduras.- Não vai dormir de novo com o copo na mão.
Acendeu um cigarro e começou a mexer o tucupí que começava a ferver no tacho. Pegou um copo d'água que não chegou a beber, pois o largara no ar de um supetão devido ao estampido que veio da sala. correu para ver o que era.
- PELAMORDEDEUS, o que foi isso, Elvis?
O velho havia dado um tiro na televisão. Estava ali, sentado, rindo serenamente com o copo de uísque numa mão, na outra um imenso revolver cromado soprando um resto de fumaça pelo cano.
- Preciso voltar pra Vegas- balbuciou com a cabeça da pescada na boca.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Noite rara

Noite rara

Chovendo na noite. Calçada do Claus. Louis Armstrong canta. Trompete rasgando suave. Josélio quieto. Sóbrio. Curioso! Sem mais ninguém no Claus. Eu e minha bela. Natália. O jazz cortando os chuviscos. Uno vermelho no baixo da ladeira. Parado. Sozinho. Frio devorando a atmosfera fresca. Cerveja trincando os dentes. Armstrong descansa o trovão da garganta. Silêncio contempla serenando.

Clarineta deslizando no asfalto brilhoso. Minha bela e eu. Minha camisa em seus ombros eriçados. Meus ossos em ritmo bebop. Ela ri. Josélio quieto. Sóbrio. Curioso! Cerveja trincando a testa. Uno vermelho sozinho. Com frio. O trovão de Armstrong ainda descansa. Trompete sensual ecoa garoando. Lembranças sutis. Antigos natais. Goteiras luzentes. Finos pingos nas telhas. Clareando-as o grude. Cor de bosta-serenata.

Josélio bebe. Conversa sentado. Quieto. Curioso! Ninguém no Claus. Só o asfalto brilhoso. Amarelado de luz. Reflexo dos postes. Fileiras brilhantes. Dobrando. Sumindo na curva do escuro. Só eu e minha bela. Chuviscos luzentes. Armstrong rosnando. Goteira escorrendo. Cerveja trincando. Piano comendo. Uno vermelho partindo. Calçada esfriando. Vento batendo. Sono chegando. Armstrong rasgando. Josélio tremendo. Piano apertando. Chuva chovendo. Ninguém está vendo. Natália chamando...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Por aqui e por acolá


Por aqui e por acolá


Por aqui e pelos  acolás há uma mídia adoecida. Já é até meio velha e, ainda sim, adoecida.

 Por aqui a mídia é amputada pelo capricho dos montantes de grana “polida” que outrora estavam “imundos” de suor servil. 

Por aqui ela dita a música que convém à ignorância, constrói a embriaguês fantasiosa. Monta, formata, “renova”, tempera as roupagens e re-roupagens para empurrá-las goela a baixo. Esse círculo vicioso viciado pelo gostoso capricho avarento é ingerido à força sempre.  

A mídia, por aqui, engorda enchendo a linguiça dos nossos olhos, dos nossos ouvidos, dos nossos dias. 

Por aqui, ela habita um tipo de leito infantil cheio de fedentina ornada em pedrarias luzentes de um conto de faz-de-conta gerado por algum esgoto que escorreu de alguma privada craniana.

A mídia, por aqui, está em um processo de engorda ininterrupto.  Preenchendo com peido o vazio da tripa do esclarecimento.

Por aqui, ela continua amputada. E não admite pernas mecânicas para corre na velocidade do esclarecimento. Uma máquina da idade das trevas prostituida pela burrice fabricada.

A mídia, por aqui, espalita os dentes, deitada numa rede encardida na varanda rústica da mesmice, mostrando os dentes podres para varejeiras esverdeadas. Aqui a mídia é tão obesa quanto as dos acolás.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Holly Holly Holly wood wood wood!

Holly Holly Holly wood wood wood!

Aposto que, antes do trigésimo terceiro mineiro chileno ser resgatado naquela cápsula claustrofóbica, algum robô de hollywood já havia terminado um roteiro sobre esse acidente e sua repercução. Alguém duvida? Posso até visualizar, mais ou menos, toda a mega-produção megalomilhonária.
O acidente ocorre em algum deserto dos States; pode ser no Arizona ou nos cambau. Não importa. Hollywood pode fazer ter ouro em qualquer deserto, assim como pode fazer ter armas de destruição em massa no Iraque. Hollywood é fodona, mesmo. O cenário da mina soterrada iria ter como ornamento latas de cerveja, uma bandeirinha dos States pregada na parede rochosa ao lado de um calendário contendo a foto de alguma vadia siliconada do mês. Elenco pra esse tipo de história tem de sobra. Por exemplo: Nicolas Cage. Não cairia bem como o lider dos mineiros? Com aquela cara de pastel, já meio coroão, paciente e, às vezes seguro de si? Eu pensaria, também, no Morgan Frígiman, mas o cara já é um ancião. Deixa ele conduzindo a pequena miss Daisy. Ben Affleck teria que estar como um dos caras fortes que  se espelha no líder pastel e sempre puxa do bolso a manjada foto de esposa e  filhinha loiras com um cachorro peludo chamado spike. Sorridentes, claro, no cercadinho branco da doce casa amarela. Que lindo. Acho que peguei um diabetes, agora.
Tem que ter uns negros, também, né? se não fica foda pra produção. E no meio desses quadojuvantes negros que também fazem bico em clip's de hip-hop e seriados de comédias sobre o cotidiano dos manos, o líder ficaria à cargo  de Cuba Gooding Jr. Ele seria o cara rebelde que não concorda com o cara-de-pastel e sempre procura um jeito de assumir a liderança total. Essas produções sempre põem algum negro representando isso em situações de desespero onde cinco ou mais pessoas estão confinadas em algum filme de suspense. Que merda, não?


As tomadas sempre iriam ficar alternando entre os mineiros, suas esposas sexys às lágrimas, repórteres asiáticas em meio a helicópteros, furgões, bandeiras dos States, câmeras, generais parrudos com seus charutos fedorentos,  bombeiros empenhados num deserto qualquer dos States, mais bandeiras dos States e, é claro, a toda-poderosa Casa Branca com suas mentes brilhantes tentando resolver o caso enquanto procuram abafar os fatos. Em vão, é claro. A merda sempre se espalha no ventilador. E por falar em Casa Branca, não poderia deixar de faltar o todo-poderoso presidente dos States. E em momento oportuno, o papel ficaria com o maluco do pedaço: Will Smith como Barack Alabama. Aí já viu, né? Ele todo elegante descendo de um helicóptero das Forças Armadas dos States, com uma jaqueta militar fazendo um discurso meloso sobre "Coragem, heroísmo, Deus abençoe a América e bla  bla bla...", ao som de uma  melada trilha chorosa e sendo visto por milhares de pessoas no mundo. Em suas casas, bares, barbearias, etc, etc, etc... e tal.


sábado, 9 de outubro de 2010

À propósito do peido que a doida deu

À proposito do peido que a doida deu

Estava-mos no mustang, Mayra sorridente, Poly, um doce de pessoa, Natália a minha bela, Iuri Petrus o pederasta e eu, eu mesmo. Tomava-mos umas e outras vendo o Flamengo ganhar uma finalmente. Curiosamente, a cerveja do bar acabou exatamente no apitar final do árbitro da fatídica partida contra o Atlético Caipirense. Que merda! “Vamo pro Claudeci!?”, solucionou Mayra. “Lá num tem cerveja, não.”, Adiantou Poly, “Eu fui lá mais cedo e tava tudo quente, naquela porra!” Que merda! “Mas, ta aberto lá. Eu vi inda gorinha.”, rebateu a sorridente. “Intão o povo lá ta bebendo cerveja quente até agora. Vamo logo. Já deu tempo de gelá.”, Agoniou, o nosso amor de pessoa. Tocamos pra lá.

Chegando lá introduzi logo meu pênis drive no USB do Claudeci. Os primeiros albuns do The Cure. Caíram as tampas e as conversas. Natália, a minha bela, juntamente com a sorridente adentrou a cozinha a providenciar algum tira-gosto. Tomate e cebola picados com arisco, eu acho, limão e água. Era o que tinha disponível. Parecia lavagem de porco, mas tava até bom.

Acho que as conversas só vieram a ficar interessantes quando Petrus relatou acerca de uma caganeira resultante de um velho X-tudo. Era uma daquelas que o fazia mijar pela bunda. A todo momento tinha que despejar as jatos podres no banheiro do posto onde trabalha. Em determinado momento dessa triste labuta, Petros, o pederesta, suado e sentado no vazo achou que não tinha mais o que rejeitar de seu corpo já vermelho. Levantou-se pra suspender as calças quando, involuntáriamente, despejou uma longa rajada de sopa de merda acertando a parede do banheiro. Agoniado, usou o pé como rodo a puxar a gororoba amarelada que tendia a se espalhar pra debaixo da porta. Enfim, cesou. Todo o posto ficou empesteado.

Conversamos sobre situações constrangedoras como quando sentimos uma incontrolável vontade de cagar em locais indesejados como na casa alheia. É foda quando a cagada é seguida de uma trilha sonora composta por uma por seqüência de peidos letais. Soltamos vagarosamente a bosta comprimindo cuidadosamente as pregas do diafrágma bogal, afim de não estralar uma bufa sonora e decrescente como o motor estridente de uma Agrale velha.

Nesse ponto da conversa sobre flatulências descontroladas lembrei de um fato curioso. "Alguém já viu uma buceta peidá?",  perguntei pra mesa. "já", responderam todos. "É engraçado. Os beiço dela fica tremendo enquanto suspira.", Mayra se pôs à sorrir concordando. "será que é por causa da pressão deixada pelas metidas do pau?", perguntei. "É não, porque eu já vi ela peidá e eu num tenho pau!", adiantou Poly. "E eu acho é lindo quando isso acontece. " E sai um mau cheiro de lá.", ressaltou petrus. "Bafo de priquito.", lembrei. "Quando agente chupa buceta e ela peida, agente fica arrotando buceta até uma zora. É massa, hahaha...", afirmei. ".

Fui mijar. Quando voltei, o assunto já era cú. Cú depilado e cú cabeludo. Caralho, cabeludo não rola. Nem cú nem xoxota. "Eu não raspo o meu.", afirmou, a sorridente. "Teu cú é cabiludo?", perguntei com asno sarcástico. "É natural, num pode não?"."E o cabelo ajuda na penetração, sabia?", exlplicou, Poly. "É o quê, rapá?", peguntei surpreso.  "Por mim pode tá do jeito que tivé. Eu caio é de boca, mermo. Se a floresta tivé muito alta eu desbravo. O negócio é chegá lá.", Defendeu Poly, uma exímia chupadeira de buceta como eu. "Só sei que eu gosto é tudo raspadin igual um toicin.", falei lambendo os dedos. "Mas, tem mulhé que não cresce pelos no cú. A minha mãe, por exemplo, quase não tem pelos nas pernas. Nunca precisou se depilar." disse o pederasta Petrus. "Qué dizer, então, que fica subtendido que tua mãe tem o butão raspado por natureza?", perguntei. "Meu Deus, só tem doênte, aqui", lamentou a Poly com a mão na cabeça.   

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nota de falecimento temporário

Nota de falecimento temporário


Minha imensa aldeiota está de luto. Ela ganhou. Como? Todos sabem. Fazendo algumas compras de última hora. Cédulas envoltas em documentos, corrompendo a ingenuidade de nessecitados. Nessecitados que sempre tiveram como heroi o homem que simbolizava a esperança dos trabalhadores, mas que dessa vez, pediu voto pra ela todos os dias em todos os canais. E sem cortes de edição, desta vez. Grande jogada, não? Usar a imagem da esperança dos ignorântes, outrora inimiga, para ganhar mais quatro anos de oases surtido.
Ora. Não tem como competir com a filha do dono do feldo. Houve uma carreata nesta madrugada. Quem não conseguiu dormir pela idguinação ouviu e viu a horda de bobos da côrte. Muitos foguetes rancando o sono dos que conseguiram dormir. Comemoravam a "soberania" dela. Que tipo de gente promove uma carreata na calada da noite? Era o arrastão do 15. "Arrastão". Escolheram bem a palavra pra expressar toda a côrte.
Ela ganhou. Dá pra acreditar? De quantos analfabetos ela precisou? Até quando ela permitirá que eles continuem analfabetos? De quantos anos mais suas ventosas insaciáveis precisam? Quantas cirurgias serão precisas para deixá-la parasitando?
Nossa imensa aldeiota está de luto. Ela ganhou. Mas nós que somos aves de arribaçã não vamos deixar nossos corações perderem a luz. Não, não vamos deixar nossos corações perderem a luz. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Advinha, advinha!


Adivinha, adivinha!

Observem essa foto. Convenhamos, aqui, o quão é fofinho esse bebê. Não dá vontade de espremer esse buchinho e morder essas coxinhas roliças? Gut gut gut, ôxe modêzo! Essa foto... ou melhor, esse retrato foi batido em meados de 86. Nossa persona, aí, somava 1 aninho e meio. Portanto, façam os cálculos de quantas semanas santas e alguns meses de cerveja o nosso bebêzinho possui. Não vou revelar sua idade por medo de possíveis represálias movidas por um complexo de idade. Coisa que acredito, fielmente, não existir na alma desse bebê tão vivaz. Apenas posso afirmar com deleite que essa cosita continua um petisco deliciosamente surtido em nossas vidas. Aos que já tinham conhecimento do belo retrato batido, por favor, não revelem. Aos que estão contemplando, agora, tentem advinhar quem é essa criaturinha rochunchuda de carinha birrenta que possui um sorriso brilhoso e um felino olhar terrivelmente sexy. 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pequena lapada eleitoral

Que fique claro, nessa lapada, que os candidatos são "fictícios".




Pequena Lapada Eleitoral

Começa agora a Lapada Eleitoral Gratuita com a coligação " O Maranhão não pode mudar", juntamente com os partidos: P no C, P no seu C, PM D Bosta, o bando PTrairagem, também conhecido como PT do Bigodudo, P etc.:


" Olá, irmãos. Sou a Sicrana de dEUS. Sou candidata à Deputada "ladroal". Sou uma senhora crente, graças à dEUS, que sempre prezo pela família cristã. Peço seu voto porque meu marido é pastor incompetente e não tem uma S10 ou outra "picapi" do gênero. Sofremos com isso. É frustante, sabe? Meu número é esse..."


"Meu amigos, sou o Beltrano da mercearia. Sou um comerciante antigo da cidade. Minha "probosta" é aumentar o comércio da região. Haverá emprego "nesses" comércios e uma... chácarasinha no bananal, pra mim. Meu numero é esse..."


"Eusouseucandidatosemisntruçãoquetálendoessepapeldoladodacâmera. PeçoseuvotopradeixáoMaranhãocomotáeomeubolçocomsemprequisestá. Meu númeroé..."


"Meus amigos. preciso de votos para reparar um grande agravante. Sou um play boy de família tradicional na cidade. nunca tive vocação pra nada. Minha família ganhou furtuna com pó de café e eu não soube nem lidar  com o meu próprio pozinho. Fui presidente do time da cidade. Não deu certo. Tive que sair da presidencia deixando um presente de grego; um "cavalo de pau". Portanto, quero ser seu Deputado para esfregar na cara dos meus que, também, eu pude acumular furtuna. Conto com vocês."

"Meu irmão e minha irmã. Eu sou outra Fulana de dEUS. Sou outra crente que precisou se aliar com a inimiga bigoduda. É naquelas tetas flácidas que está a divina graça que enche bolsos e edifica nossas ostentações materiais. O leite das tetas flácidas tem poder. Conto com você no dia 3 de Outubro."

"Caros eleitores. Sou um médico coceituado. Dou duro todos os dias atendendo preto, pobre, menino catarrento e o caralho. Meu gordo salário não está suprindo a nessecidade da minha família. Meu filho precisa de um importado novo pra poder "tuná-lo". minha mulher está perdendo o brilho em meio as peruas da alta sociedade provinciana. Me ajudem, caros eleitores."

"Companheiros, se vocês confiam em mim e gostaram do meu governo, então façam o que estou pedindo à mando do bigode-mor. Votem na princesa bigoduda. Até porque, ela é uma senhora insuportavelmente birrenta quando não tem o Maranhão sob seu saltos franceses."

"Sou pastor influente. A câmara precisa de deputados como eu. Deputados com a inteligência que eu tenho. Graças ao meu dom da falácia consegui 150 mil votos de todos os meus fiéis para a princesa bigoduda. Irmãos, irmãos, isso não é fácil. Tive que falar em línguas várias vezes para persuadí-los. Irmãos, irmãos, o Maranhão precisa de mim e eu das tetas oligárquicas."

"Primeiro vote no lobo traiçoeiro, depois em mim!" "Não. Vote primeiro no jagunço assassino, depois vote em mim!" "Então vote em nós dois e fode tudo, logo!"

"O senado precisa é de um jagunço como eu. Cabra destemido. Quando fui governador dessa merda mandei matar muita gente. Eu sou um cachorro de guarda competente. E como um bom cachorro, sempre chupei o saco murcho do padrinho bigodudo. E é assim que ele gosta porque comigo é assim: primeiro atira e depois pergunta!"

"Olá, povo do Maranhão. Eu sou a governadora que vocês precisam. Sou a pessoa ideal pra governar esse Estado tão fudido. E quero continuar fudendo. Estamos investindo milhões do papai nessa campanha pra não mudar o Maranhão. Porque ele não pode mudar. Se ele mudar quem se fode sou eu. E não foi isso que papai me ensinou. Diferente de meu irmão fracassado, eu sou uma mulher guerreira, batalhadora, sou uma mulher do povo. É é o povo do Maranhão que me engrandece os cofres. Ainda há muitas obras para serem batizadas com o maldito nome de minha família. As ventosas de minha família precisam de mais uma chance. Apenas mais 40 anos. Essa sempre foi a minha "probosta"! No dia 3 de Outubro vamos deixar toda a merda como sempre esteve. Vote em mim, a princesa bigoduda!"   









  

domingo, 12 de setembro de 2010

soneto em vibrato

Soneto em vibrato









Como uma nota inexistente
d'um piano rebelado
contra o belo fabricado
que já foi bem ascendente


é teu riso congelado
nessa tela tão brilhante
refletindo em meu semblante
esse riso turbilhado

que emanou em carnavais
tal acorde em abandono
no intervalo do teu sono

por folias noturnais
onde agora está postado
esse acorde congelado.


sábado, 28 de agosto de 2010

Das flores e dos botões

Essa lapada, aqui, é a pedidos. Não pude resistir aos pedidos dos meus perversos leitores masoquistas. Lá vai. Sintam a lapada:


Das flores e dos botões


Minha jeba despenca e em tua vulva adentra.
Minha rola robusta rebola em tua bunda
rufante e fedida,
ardendo em ferida;
canal contundente,
convulso e crescente.
Anal sepulcral que comprime meu pau.
E essa xota vermelha!
Melada centelha.
Caverna carnuda,
profunda, raçuda,
guerreira, garrida,
garganta florida.
Esfrega tão louca. Espalha em minha boca
um suco ardente,
salobo e bem quente.
Alterno um pouco
no ocado brioco.
Com muito cuidado
desfiro o cajado
no olho enrrugado
que pisca exaltado.
  Portanto digamos,
o quão é macio
 o mais belo funil
 que é um bom ânus.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A solidão da rua

A solidão da rua


Em pacatas madrugadas, isentas de balbúrdias barulhentas, a solidão deita sua soturna majestade sobre a rua que dorme em profundo relento. A solidão da rua emana um silêncio que não é de morte, nem abafado. É um silêncio livre que corre de manso velando as frestas das janelas, a frieza das telhas, as folhas que caem, e, caídas repousam inertes, paradas no tempo que segue em cochilo. 
A solidão da rua respira a clorofíla que se resvala nos becos e batentes, que vai penetrando no rijo dos póros do asfalto resfriado. A clorofíla que em seu mais alto ápice embala o bêbado em seu sono ignorânte ao frio e  vai inebriando os secretos passos dos felinos que guardam tal solidão alheia em si.
A solidão da rua é uma fera que dorme quieta em cumplicidade com a solidão da lua. Vociferando sonhos multi-ininteligíveis, devorando barulhos, executando ruídos, absorvendo os mistérios de cada pegada deixada em poeiras acumuladas. Ela pesa macio no repouso do cachorro esquecido entre sacolas gordurosas. Solidão que embeleza o imaginário aurático das formas e sombras, das luzes amareladas dos postes em sentinela que banham as copas  compondo uma tela estática, porém, latejante que balbucia algo no inconsciente. Algo que habita no turvo das árvores, nas saliências pitorescas das calçadas, na espreita dos arbustos, abertas à interrupções e acontecimentos. No silêncio fechado das flores que aguardam o sol.
 Um balbucio calmo que espera um crime silencioso, uma rajada mecânica cortante no ar, gargalhadas explosivas, uma transa espontânea, o suor gelado; orvalho danado que esquenta a carne convulsa, cujo gemido abafado, agoniado respeita o silêncio tranquilo da solidão da rua.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

De sonho e de sangue

De sonho e de sangue
Os personagens dessa tragédia são factuais,
porém, algumas situações são fictícias.

Era mais uma dessas manhãs de domingo onde o sol estava meio morno e a ressaca não castigava tanto assim. Poucos carros, sacolas de pão, baganas de cigarros acumuladas na frente do bar que dormia exausto e pequenos montes de lixo ensacados nas quinas das calçadas. Não tão longe da parafernalha cangacenta do nosso velho Filipão, a agradável temperatura dourava o imponente bucho nu de Sitônio Silva "Seixas" que se encontrava na porta repousando o pesado corpo repleto de morrinha pós-álcool no pano verde de sua "cadeira preguiçosa". No chão, ao lado, havia uma jarra de vidro cheia de suco de uva com cubos de gelo - Esse era um procedimento pradrão tomado nas desidratadas manhãs dos finais de semana. Do meio da rua se podia ver dentro da pequena sala de estar uma televisãosinha cor-de-rosa, daquelas da xuxa, conectada à um aparelho de DVD. Dela saia a trovejante voz do Zé Ramalho. Canção agalopada. O sol continuava perfeito e corria um vento manso causando-lhe uma sensação de frescor já que estava sem cueca, vestindo apenas um short fino e não mais preto do vasco da gama. Espantava, pacientemente, uma mosca teimosa que tendia a pousar na boca da jarra. Olhou para o rumo da Praça União. Mais precisamente para o boteco do "pêxe pôde". Reconheceu uma figura familiar que de lá vinha. Era uma criatura cambaleante, magra, de cara fina, olhos esbugalhados e topete bagunçado. Parecia mais um enorme facão "língua-de-péba" ambulânte que se envergava pra lá e pra cá. Aproximou-se.
- E aí, Sitõe, beleza, cara? - Perguntou, meio que travando a voz, o bêbado.
- Fala, el Tabôsa - Saldou-o, bricando com um sotaque espânico.
- Tu viu o Cabecinha por aí?
- Não. Acabei de me prostá aqui na calçada pra pegá um sol bem!
- Porra, eu liguei pra ele faz é hora. Falei que tava lá no pêxe pôde, esperano ele. - Disse rápido com um ar sério.
- Ôxe, liga pra ele de novo. - Sugeriu o Sitônio enchendo o copo com suco.
- A bateria des... carregou. Tu... tem cré... crédito aí, cara? - Gaguejou sentando-se no meio fio.
- Tenho. Qual é o número?
- Êita, porra, num tenho de cabeça, não. E o ce... celulá descarregou... e agora? - lamentou o Tabosa com cara de cachorro que caiu da mudança.
- Agora ficô ruim de mexê, mérte! E o que era que tu queria com ele?
- Só... só tomá uma com ele.
- Rapá, que diacho de cachaça é essa? Tu tá derde ontem bebeno. E esses carrapicho, aí na tua calça? tu andô aonde diabo?
- Sei lá, cara. Acho que foi quando eu tava com o Alain lá na bêra-Rio.
- E cadê ele?
- Me dexô no pêxe pôde e sumiu no mundo - disse abanando os braços e olhando pra jarra - Ê, Sitõe, eu... eu posso tomá um pouco desse vinho, cara?
- Num é vinho, não. É o meu nécta salvador - levantou o copo para o alto, depois passou pro Tabosa - , é a mais bela glicose.
- Égua, cara, tô precisando, mermo desse nécta, hahaha... - sorriu, abobalhadamente mudando, logo, a feição.
Ao vê-lo sorrir, Sitônio lembro-se do que haviam falado, certa vez, à respeito desse sorriso que "parece um pangaré magro". - E o cabecinha tá aonde?
- Num sei, não!
- Sim, e tu só bebe se fô cum ele, é?
- É porque eu tô liso e ele disse que tem um trocado, aí. - passou a mão no topete pontudo e concluiu com lamento - Bicho, eu gastei tudo, Sitõe.
- É, mérte, acontece. Eu queria tomá uma, também, mas tô falido. Ontem rolô um aniversário, aí no Claudete. Era dum metalêro. Pense num magote de metalêro junto? Tudo cabeludo, lôco, lôco, lôco, como diz o Josééélio.
- E tu tava lá?
- Marrapá. Nunca tinha visto um negóço daquele alí no mundo, não. Tinha umas música lá, que o cara cantano parecia um porco seno capado. - Disse levantando-se lentamente e se espriguiçando. - Pega uma cadêra e senta, vô dá um mijão. - atravessou o estreito corredorzinho que dava para a cozinha. Coçou o saco por um bom tempo. Sorriu ao lembrar da eterna pira piscológica do Lambal. Ao retornar, se deparou com o cabecinha sentado na garupa de uma bicicleta meio acabada.
- Ó, o cabecinha da minha pinta!
- Fala, Sitroën.
- Fais hora que o Tabosa te espera pra iniciar os trabalhos.
- Iniciar? Essa miséra tá na rua derde onte, bêbo cego.
- Ê, Cabecinha, eu tô de boa, cara. E aí, vamo lá?
- Lá aonde? Eu tô liso macaco.
- Ê, Cabecinha, tu disse que tinha grana.
- "Tinha". Falô certo. Minha Vó levô tudo pra fazê a fêra.
- E agora, doido?
- Agora ficô ruim de mexê. - respondeu, Sitônio pondo a cadeira preguiçosa pra dentro. O sol já começava a arder. - Vamo pra dentro... o Tabosa tá afim, mermo de bebê. Espera aí que ainda tem um pôco de tandrílio, aqui. - Sumiu no corredorzinho cantarolando Love me tender, do rei.
- Que diabo é, Cabecinha? - perguntou, Tabosa notando que ele estava olhando-o com desaprovação devido ao seu estado ébrio e amarrotado - E tu, Cabecinha... quem é tu pra falá aguma coisa?
- Oxente, menino, o que é que eu tô falano?
- Eu sei, Cabecinha, só de olhá esse olharrr, aí, de s... s... de sensura - Reclamou balançando o topete. - Logo tu que bebe pá caralho.
- Sim, lôco véi, eu tô calado, aqui. Tá fincano é doido.
- É, né? Anhã, tá bom! Pensa que eu num sei que tu ficô só de cueca, um dia, ali no Claudeci?
- Sim, tava chuveno. Pió foi o Jairo que ficô foi pelado, correno no mêi da rua. Ele tava cum a cueca no ombro.
- Alguém viu? - perguntou se dobrando na cadeira.
- Ôxe, a galera toda que tava lá.
- Hahaha... Caralho! Ê, Sitõe, tá sabeno dessa do Jairo?
- O quê? - perguntou trazendo uma garrafa de Slova abaixo da metade.
- Que o Jairo andou pelado na rua?
- É um insano. Eu tava lá. Até banhei na chuva.
- Bicho, ele ficô peladão, mermo?
- É um doênte. Só fez jogar a rôpa no ombro da Natália e saiu pulano igual macaco, na chuva. É um doênte.
- E a Natália num falô nada?
- Falá o quê? Ela faz é gostá dessas depravação dele.
- Sim, cadê os copo? É pra bebê no gargalho, mermo? - resmungou o Cabecinha fitando a garrafa posta numa mesinha no centro.
- Muita calma, nessa hora. - disse, Sitônio trocando o CD. Foi buscar os copos.
- E onde era que tu tava? - perguntou o Cabecinha encostando a bicicleta no pé da porta.
- No Pêxe Pôde te esperano.
- Não, animal. Antes de ir pra lá.
- Acho que apaguei no carro do Alain.
- E cadê aquele lôco?
- Sei não, cara. Acho que ele foi dormir.
- Pega, seu animal - Passou um copo de extrato de tomate limpo pro Tabosa. - Qué também, cabeça da minha pinta?
- Claro. E bota um pôco desse suco, aí.
- Suco? Ai ai ai - Sentou -se apontando a direção da jarra - Tá aí, ó.
- Ê, Sitroën, tu tem que me serví, porra, eu sô visita.
- O cú tu num qué dá BEM, não?
- Bicho, eu tô brocado, num tem algum tira-gosto aí não?
- Ahhh, oí Tabosa, ele qué pãozin e leitin. Tu num qué um gomoso bom, não?
- Vai te lascá, disgraça.
- Ê, Sitõe Silva, só tem isso aí de vodka? Isso aí num dá pra nada não, cara. - alarmou o Tabosa, preocupado com a pouquísima bebida.
- É o que nós temos, mérte.
- Ê, caralho, tu tem quanto aí, Cabecinha?
- Setenta e cinco centávo!
- E tu Sitõe?
- Nada.
- Rapá, Sitõe, vê aí, porra.
- Vejamos... Vô averiguá nos cofres da família Corleone. - Sumiu, novamente, no corredorsinho.
- Ó o Helto alí. - Tabosa gritou pele janela - Ê, Helto, vem aqui, cara.
Surpreendido pelo grito, Elton se virou e aprumou a visão pra ver quem era. Reconheceu o Tabosa e atravessou a rua balançando a cabeça negativamente.
- Bicho, Tabosa, tu já tá bêbo, de novo? - Chegou na porta e viu o Cabecinha encarcando vodka goela a baixo. - Ó o diabo. Cabecinha? Que diabo vocês... Meu Deus.
- Tá ino pra onde, doido? - pergunta Cabecinha.
- Lá pro The pêxe pôde club band, tomá umas de abacaxi e curtí um som.
- Não lôco, vamo tomá aqui na casa do Sitõe Silva.
- E o que isso que vocês tão tomano?
- Vodka com suco de uva.
- Sim, minino, já tá é acabano!
- Agente tá fazeno uma vaquinha pra comprá ôto líto.
- E já tem quanto?
- Eu consegui encontrá dois conto no bolso da bermuda do Cássio. - disse estendendo a nota pro Cabecinha.
- Quem diabo é Cássio?
-É um cidadão que divide, aqui, comigo a onda.
- Tu tem quanto aí, Helto? - pergunta Tabosa.
- Rapaiz, eu tô fraco.
- Que nada, Helto. Tu acabô de dizê que ia bebê no pêxe pôde.
- Sim, minino, era cachaça num era cerveja, não.
- E quanto é que tu tem disgraça.
- Hohohohoho.... - Sitônio gargalha em estridências ante a impaciência de Cabecinha.
- Só tenho 3 conto, porra. - Helton puxa do bolso uma nota de dois e duas moedas de cinquenta centavos. - Pega besta-fera. E o Tabosa num deu nada?
- Tô liso, cara.
- Rapá, Tabosa, tu é um lixo, mermo.
- Sim, meu amigo, vamo fazê a contabilidade, aqui. - Sitônio junta toda a merréca - Temos exatamente cinco reais e setenta e cinco centavos.
- E qanto é o líto de slova?
- Uns sete reais, no maximo.
- Que diacho de brêfo é esse?
- No mundo num tem não, mérte.
- Me dá essa porra, aí. Vô lá no pêxe pôde comprá. O resto eu dêxo no "F" cum o Lorival. - Helton pega o dinheiro  e sai em passadas largas.
- Ê, sitõe, esse cara que mora aqui contigo é do Amarante, também?
- Lógico, meu amigo. Tem que ser.
- Rapaiz, eu acho que em todo condomínio de Imperatriz tem esses amarantino pau-de-bosta. - brinca Cabecinha. - Na UEMA tá é chêi.
- É mermo. - Concorda Tabosa.
- A colônia amarantina dominará o munnndo. - serra os punhos, bate no peito e grita rasgado - A minha identidAAAde.
- Bicho, cara, lá num tem vodka não. - lamentou Helton na porta. - E agora?
- Agora ficô ruim de mexê. Definitivamente.
Na janela aparece a cara seca do Josélio Jhon Joe.
- Faaaala, bando de va-ga-bun-dos?
- Ó! Joséééélio Barroso.
- Barroso é teu pai, fie de rapariga.
- Hohohohoh - a gargalhada de Sitônio fez todos rirem.
- Que diacho é que vocês tão inventano aí, Rapaiz?
- Rapá, agente tá tentano juntá uma grana pra comprá um líto. Tem alguma ajuda aí?
Jhon joe começa a assoviar alto, enfiou a mão no bolso e jogou pelo lado de fora um papel embolado. Depois sumiu sem mais nem menos.
- Que diabo é? É pedra? - pergunta Sitônio, rindo.
- É dois conto, doido. - gritou Cabecinha como se tivesse ganhado na loteria.
- O Josélio deu dois conto? Ohh, meu Deus! quem trabalha o povo qué de novo, meu povo!
- Vai lá Cabecinha comprá a parada. - mandou Helton.
- Nã! Marrapá, quem vai é o Tabosa, ôxente. Ele num deu nada.
- E tu deu muita coisa, num foi Cabecinha? Só umar mueda véa.
- É tu mermo, Tabosa. Vai logo, disgraça.
- Porra esses cara são foda pra caralho. - resmungou pegando o apurado e socando no bolso da calça. - Sim... e onde é que eu compro?
- Onde é sitroën? - pergunta o Cabecinha trocando o CD.
- Rapaiz... naquele supermercado, alí... quase em frente o sacolão central.
- Ah, sei. Lá na Simplício, né?
- É, miséra. Vaza logo. Vai na bike do Cabecinha.
- Ê, cara, tem frêi, tem?
- Satanais, bicho! Tem, porra.
Tabosa subiu na bicicleta embaraçosamente. Lembrou à todos um cavaleiro atapalhado que tenta montar um cavalo "brabo". Todos foram pra porta olhar. Bombiou um pouco na arrancada. Conseguiu o equilíbrio necessário. Dobrou a esquina.
- Depois que apruma num cai mar não, maluco. - Assegurou o Helton.
- Porra, Cabecinha, por quê tu tirou o Zé, a lenda? - perguntou, Sitônio com desaprovação.
- O que mais tem aí?
- Tem coisas lindas.
- "Coisas lindas"! Ai ai ai, parece que é emo.
- Rapaiz, os emo vão dominá o mundo, mermo? - ironizou de forma triste, Sitônio.
- Bicho, tá em todo lugá, esses troço ruim. Daqui uns dia tão no Amarante.
- Daqui uns dia? Já tão, e é beeem, moço!
- É mermo, Sitõe? Rapá, que diabo é isso?
- O pau que rola lá e emo e a peeedra, mérte.
- Pió, bicho. A pedra tá acabano cum tudo igual potaça.
- Rapaiz, qual é o propósito dos emo, mermo? Assim... O que diabo eles são? O que é a identidaaade emo?
- Dá o cú, mermo. - Disse Cabecinha olhando o estojo de CD's.
- Bicho, os emo é a maior nojêra do mundo. Eles não tem nenhuma ideologia, só istíca o cabelo cum sebo de bode, só pode, cola num lado da cara, põe umas calça colada, colorida e ouvi NXZero e Lade GaGa. Eles fica só de grupín nos canto chorano as dores de suas fraquezas. - explica, Helton.
- Rapá, e comé que guênta andá cum aquelas calça espoca-ovo? Moço, alí se dé um peido o fundo da calça saca fora.
- hahaha - Cabecinha se acaba em gaitadas.
- E eles fode, será?
- Fode porra nenhuma. Alguns fala que num tem sexo, não. São como anjinhos delicadinhos.
- Ah, meu pau no leite de côco. - resmunga, Sitônio.
- E outra. Ainda por cima, esses nojento pegaram o visual de um monte de movimento e tendência do passado. Robaram dos punk, dos metal, dos mode e o caralho. Misturam cum os nerd e os dragqueen. Aí, deu essa porra, aí.
- Tem uns que robaram, também, o corte de cabelo do Chitãozin e Chororó dos anos 80.
- É mermo, bicho. É igualzín àquela nojêra.
- Bicho o Tabosa foi comprá esse líto lá no Amarante, mermo? O que o Sitõe trôxe só deu uma dose véa pra cada.
- Porra, Cabecinha, tu tirô o som de novo, miséra? - reclamou, impaciênte, Sitônio
- Peraí, porra. Xô vê o que é isso aqui.
Era Fagner. Sangue e pudins.
- Pode dexá aí, mérte. Meu Deus. Essa música é uma rajada na alma. É uma lapada no meu pâncreas. - Disse com o rosto e os braços estendidos pro alto. - Essa música é do Zé Ramalho, só que essa versão é tu-do, no universo. Na galáxia. Zé Ramalho é um centauro mitológico.
- Prefiro o Alceu. - Coloca, Helton.
- Eu também. - Reforça, Cabecinha.
- É não, mérte. Num pode.
- Não... Tipo assim - tenta suavisar Helton, - Os dois são equiparados. O Zé é melhor pra fumá maconha e o Alceu é melhó pra bebê e indoidá.
- É. Sendo assim, pode sê.
- Ê, Sitõe, tem belchior nessa miséra, não?
- Acho que é esse aí que tá na tua mão.
- Hehehe... Citãozin e Chororó! Ê, disgraça, esse bicho é muleque. - Lembrou Helton da comparação feita por Sitônio.
Cabecinha pôs o CD. Começou com a palo seco. Houve um breve silêncio por força que tal música lhes causava. Tabosa apareceu na porta, suado. Ofegante. Trazia a garrafa de vodka. Helton notou uma grande raladura em seu ante braço.
- Que diabo foi isso, Tabosa?
- Tu foi comprá esse líto aonde, satanais? - perguntou o Cabecinha.
- Tu foi pisano no zovo? - Sitônio perguntou.
- Vão se lascá,vocês tudim. Eu sofri um acidênte, cara.
- Como foi?
- Eu tava ino na rua quando eu vi o meu pai no carro bem na esquina da Benedito. Aí, eu me espantei e apertei o frêi da frente. O pneo de traz levantou e eu me lasquei no chão.
Os outros se olharam, por um momento, e cairam na gargalhada. Tabosa, na porta, ficou com cara de jumento olhando. As gargalhadas pararam. Ele olhou pra raladura e disse:
- Mais eu num dêxei o líto caí. - passou a dar gargalhadas sozinho.
- Me dá esse líto aqui, cara de pangaré. - disse Helton tomando a garrafa da mão do Tabosa e pondo na mesinha.
- Ê, Sitõe, faz o suco, lá.
- Já tem feito. Tá lá na geladeira. Péga lá.
- Não. Dêxa que eu pego. Vô dá um mijão, mermo.
- Ao passar pela salinha, Tabosa tropessa no pé do Helton e, parecendo uma palmeira, pende, lentamente, pro lado, caindo e buscando apoio na mesinha. A garrafa balançou e se estilhaçou no chão. Ficaram alí, assistindo a vodka se espalhar pela cerâmica velha ao som de a palo seco. Mais precisamente ao som do nostálgico sax atemporal e longínquo de a palo seco.