segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fogos de artifício

Fogos de artifício


O sonho que tive? Hum... Tem lá sua beleza ímpar em meus sentidos. Mas, tudo bem, irei contá-lo, seus cretinos. Eu voava em minha moto cujos peneis eram de couro espesso recheados de carne dura e viva. Dobrei a esquina da Praça União e avistei todos sentados ao lado  de uma macieira que pingava maçãs no tira-gosto da mesa dos meus. Desci da moto e sentei ao lado da pistoleira Vivi. Keninha amaldiçoava Helton por querer partir. Bebemos uma cerveja amarga que parecia energia ao correr em nossas gargantas.
Rairon, o que foi moldado com uma marreta rústica, Explicava a reação de uma menina ao comer sua farofa de frango que estava guardada em sua mochila havia quatro dias. Luís chegou logo depois de Machado, o defensor. Pediram uma dose de urina do demônio para amaciar o motor estomacal. Cabecinha retornou para o inferno de onde saíra, o recém casal de amigos amantes foi para o país dos espelhos, o templo do Pêxe Pôde se fechou e todos nós fomos para a inauguração de um underground recito.
Ao chegarmos, pudemos avistar enormes águias reais estacionadas. Eram brancas de cabeças e pescoços negros. Estavam amarradas e seladas em fila. Esperavam seus donos que se embriagavam lá dentro. Lá dentro! Entramos e o bar era uma comprida rodovia letal de asfalto quente. A rodovia cortava todo o estado do Arizona indo morrer em um palco onde um Chacal tuberculoso vomitava J Quest. Sentamos na beira da pista e garçonetes com patins de quatro rodas nos veio servir cerveja com suas bandeiras norte americanas estampadas no ombro esquerdo.
Não estávamos à vontade ali. Nossa casa não era ali. Tivemos a idéia de acionar, através do velho código de Morse, meu soldado Acriano Josafá El Chancho. Não demoro, ele disse tossido. Levo o quê para vocês?, ele perguntou calmamente. Traga apenas um bimotor. Só isso já basta. Traga o Boeing 66. A ocasião requer algo mais especial, interviu, Luís com olhos brilhantes. O Boeing 66? Isso vai ser lindo, então. Em 20min estarei pousando.
20min foi o tempo de tomarmos mais duas cervejas, fumarmos um cigarro e entrarmos no carro. Pra onde iremos?, perguntou Natália. Para o Flutuante Mestre Rosa, na Beira Rio, respondi com o dedo no nariz. El Chancho, o meu soldado acriano, pousou seu enorme avião de cabeça na rota que corta o Arizona. O impacto pegou um depósito de botijões de gás que pegou os tanques de nitrogênio da calçada do Socorrão. A explosão foi tamanha que metade do centro da cidade foi para os ares.
Nós contemplamos tudo no para-peito da parte de cima da proa do Mestre Rosa. Natália apertou minha mão ao notar um filete de lágrima que escorria em minha face. Ela não ousou enxugá-lo. Ela sabia que eu estava feliz. Ela achou belo o reflexo do fogo que ardia em minha lágrima. Ouvíamos música enquanto contemplávamos as chamas queimando a cidade. Ouvíamos Wagner. Ouvíamos A Cavalgada das Valquirias.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Energia das pedras

Energia das pedras

O ocidente e seu facetario capitalismo sempre me impressionam. Enquanto eu fazia lingüiça no açougue de casa, Ana Loura Maria José apresentava um quadro sobre a energia das pedras. O palco, dessa vez, era um consultório onde uma madame se encontrava deitada numa cama e a terapeuta espalhava pedras preciosas por seu corpo. E que lindo aquilo. Era cada pedra linda de deferentes formatos e cores.

Era uma imagem que resvalava espiritualidade pelo balcão de mármore e pelas carnes retalhadas de nosso querido açougue. “... e eu sempre gostei de jóias”, explica a madame. Claro que ela gosta de pedrarias preciosas. A senhora já está farta de não fazer nada em seu aconchego, a cachorrinha branca está tosada, os filhos estão entupidos de bananinha maçã amassada no leite em pó integral, o marido lhe dá um cartão de crédito gordo e as amigas lhe parecem mais jovens.

“O que eu devo fazer pra levantar minha auto-estima burga?”. Ora, tem uma terapia elegante, cara e sem esforços: A terapia das pedras preciosas. Ametistas, Turmalinas, Safiras e o diabo a quatro. Um detalhe importante é que cada pedra tem uma função em sua saúde e bem estar. Mas, se não der certo, e eu acredito que não dê, mesmo, conheço outra terapia com pedras que causa um bem estar instantâneo e até emagrece com uma rapidez descomunal. Basta ir a Cracolândia mas próxima de seu bairro.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Asfalto quente


Asfalto quente

Um palmo de língua pra fora
Do cachorro que procura a sombra
De um pé de Jorge Tadeu salvador.
Celulites convidativas
Espremidas em shortinhos coloridos
Queimando sob o abafado selim
Da bicicleta que desce veloz.
O pneu careca esfumaçado
Rolando por cima do gato
Que errou o tempo da travessia.
Seu espinhaço torto
Terminando de bolar na quentura,
Correndo de “revestrés”
Rumo ao PVC que serve de escape
Para a água da chuva que não vem.
O menino com a frauda na cabeça
Cochilando no ombro da mãe que derrete.
Um cuspe branco disparado em bala
Efervescendo no meio-fio
Pela ausência de tira-gosto.
Um cavalo com o lombo brilhoso
Puxando a carroça de dois insetos suados.
O sol refletido no retrovisor
Da reluzente Ranger
Radiando o rosto de Renatinha.
A caçamba que segue fervilhando
Numa imagem cozinhante
No limite horizontal da visão.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Grupation seletation muito caration

Grupation seletation muito caration

Quando eu era menino, pequenininho, eu queria ser metaleiro. Confesso que achava massa toda aquela estética metaleira. Ante-ontem eu estava em um evento metaleiro. Foi divertido. Lembrei de minha juventude e constatei: Ser metaleiro custa caro em Imperatriz, tanto pro homem quanto pra mulher. Digo isso quando se quer ser um membro seleto de metaleiros seletos. Você tem que comprar alguns adereços indispensáveis para se infiltrar no seleto grupo de metaleiros seletos.


Espartilhos de couro negro evidenciando a fartura dos seios - ou pelo menos tentando levantá-los, jaquetas cheias de correntes sadomasoquistas, meias-calças bem ornadas, imensas botas estilo Blade o caçador de vampiros, calças de couro espoca ovo, vestidos saidos de figurinos dos filmes 3D do Tim Burtom e por aí vai. Tem que cuidar do cabelo e isso gasta muito. É um saco. Não gosto de cabelo. Mas, tem que ser. Com um cabelão bem cuidado você fica mais metaleiro ao balançá-lo como um calango na beirada do palco.


Há, também, a questão dos cintos com balas e das camisetas. Acho que você tem que adquirir o máximo de camisetas de bandas desconhecidas. Quanto mais desconhecida, mais respeito você adquire. Não basta ter só do Iron Maidem, Metallica ou do não sei o quê Death. E isso não se vende aqui na Imperosa. Tem que comprar na internet e é caro. Mas, tudo bem, se você se propõe a ser um metaleiro seleto que irá fazer parte de um seleto grupo de metaleiros seletos. Isso quer dizer que você tem grana pra pegar um vôo pra Brasília e fazer compras em shops especializados em adereços de metaleiros seletos.


Existe uma outra problemática à cerca do fato de se não poder fazer parte desse seleto grupo; metaleiro que não faz parte desse seleto grupo não pega mulher. Isso é fato consumado! Tem que estar nesse seleto grupo com todos esses apetrechos e trejeitos, se não, terá que pegar emprestado a ideologia punk e "fazer você mesmo". Isso significa que você terá que ir na loja Marisa comprar uma jaqueta jeans de R$ 49,90, arrancar as mangas, enche-la de estampas do Eddie, bater cabeça, beber até cair curtindo seu pen drive cheio de poder e se contentar com a velha punheta no dia seguinte.

sábado, 23 de abril de 2011

Pizza e "facada" na madrugada

Pizza e "facada" na madrugada


Compraram os ingressos antes? Não? Tudo bem. É só trinta conto, agora. Ainda não dá pra sentir ela entrando no rim. Entrem e sentem-se. Por virem cedo, peguem uma mesa boa, de frente para o palco, mas, cuidado! Na ala direita tem uma fita vermelha lhe impondo um apartaide. Você não pode passar, não possui a pulseirinha vip. Pronto, já podem sentir o frio da lâmina passar pelo lombo e roçar o rim. Relaxem, peçam um balde de "Rainequím" gelada e curtam o CD do Pilantropic... Ô! Pilantropia, enquanto a banda Pilantropia não sobe no palco.

Dêem uma olhada pelo ambiente "aconchegante", espiem as garotas de maquiagem igual, decotes iguais, penteados iguais, pernas, bundas, tatuagens iguais. Peçam uma pizza de frango com catupirí e bebam com moderação, pois a cerva custará por volta de seis reais a unidade. Tudo fica registrado naquela maquininha do garçom.

A casa já está entupida e o calor "humano" começa a abafar o recinto. Já houve um número de facadas consideráveis nos rins, o CD da Pilantropia é retirado para dar espaço a apresentação ao vivo da Pilantropia. Bela execução, convenhamos. Bela performance do vacalista com sua calça retentora de peido. Bela execução do guitarrista a lá Calcinha Preta, com sua chapinha-metal.

As horas passam, assim como os gaçons com suas bandejas a atender as demandas. E que demandas. Demandas peculiares. Mesas que pedem cerveja num longo "copão" que vai de encontro ao céu, onde, na extremidade de baixo há uma torneira, onde pode-se notar inscrito na testa desses clientes: "Vejam onde bebo minha "Rainequím". Bebo num imenso copão por ser desprovido de pau". Mas, se quiserem se "amostrar" com mais decadence avec elegance peçam para o garçom trazer na bandeja uma garrafa de Red Label com um daqueles pé-de-moleques dos grandes, aceso, amarrado no gargalho.

Pilantropia já vai esgotando o seu repertório e o Lobão não chega. Já começa a tocar aquelas músicas românticas que as empregadas domésticas costumam ouvir num radinho pendurado na bateria de alumínio, enquanto lavam a louça, apaixonadas por seus "cumelões". Em meio ao começo da impaciência do povo, a tagarelice de um loc-roborzinho, dos metaleiros na beira do palco, aglomerados junto ao guitarrista Calcinha Preta, de braços estendidos rumo a sua guitarra como um bando de leprosos que necessitam tocar o manto de Jesus, ao cheiro de frango com catupirí, o vocalista pilantrópico despeja um discurso anti-drogas, e a união da família. É aplaudido pelas famílias unidas em volta de uma enorme pizza. Após os aplausos o vocalista canta Bichos escrotos dos Titãs. Pilantropia já repete o seu repertório e o Lobão nada.

Pilantropia já não pode, mais, continuar. O coro "Lobão, Lobão" já vai se tornando agressivo. Descem do palco e o som mecânico entra em cena, novamente. Metallica, dessa vez. Load e Reload. A faca já está quase toda dento dos rins. Mais algumas horas passando. Recebemos informações de que Loooobãããão já está aqui em Immmmperatriiiiz, tagarelava algum loc-roborzinho, em nome da casa. Lobão, Lobão era o que gritavam com frequência. Load e Reload do Metallica era o que se ouvia com frequência.

O povo já começava a ir embora. A confusão  era crescente na portaria. Devolução de ingresso, se não, haverá processo, caralho! Muitos se foram, esfaqueados no rim. A madrugada avançava, Metallica não parava e meu vinho já se esgotava. Sim. Meu vinho que comprei no Pêxe Pôde, pus em umas garrafinhas pet e escondi na bolsa de minha garota. Não queria sentir o gélido amargor da facada em meu rim. Mas, na minha última garrafinha pet de vinho, ele apareceu.

Ele apareceu, meus irmãos. Ele. Com suas 50 sextas-feiras da paixão nos couros ele subiu no palco. Explicou o porque da demora. Dos percalços da viagem de ônibus da banda, de sua vontade de cantar aqui, na Imperosa. Não precisava se desculpar. Ele é o velho lobo. Não precisava. Foram poucas as pessoas que o viram. Melhor assim. Ficou mais seleto. Mais Rock and Roll. Ele subiu inteirão, e rasgou o seu  uivo. Mesmo levando alguns choques nos lábios, ele rasgou o seu  uivo. Pizza e facada na madrugada. Estava amanhecendo. Eu lacrimejei, meus caros, em A vida é doce, terminando de beber meu vinho que comprei no Pêxe Pôde e levei para lá clandestinamente. Fazer o quê, não? Vida bandida. Foi lindo o amanhecer. Mesmo ele cantando alí.    

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Verdes férias

Verdes férias

Eram quase sufocantes as ansiedades e expectativas para André de apenas nove anos. Finalmente iria sair de férias para conhecer a terra natal de seu pai. Nunca, em seu curto tempo de existência, havia saído de sua concreta cidade parafernal. Não conhecia outro ambiente senão o amontoado de carros, pessoas e prédios de São Paulo. Dessa vez a gente vai,  nessas férias. Consegui juntar um dinheiro bom pra gente passar uns dias lá em casa, disse o pai umas duas ou três vezes para ele e sua mãe.

Imperatriz. Para André esse nome era um grito vibrante que ecoava em todos os cantos de seu imaginário. Desde que se entendia por gente, o pai lhe contava histórias absurdas e fantásticas de sua infância e adolescência. Dos amigos incomuns, das traquinagens, das brigas no campinho da praça em frente de casa e das surras que levava em casa por brigar na rua. Se você fosse brigar na rua, era melhor bater, pois, se apanhasse lá, iria apanhar em casa, também. E era com cipó de goiaba,  explicava o pai sorrindo.

Na noite da véspera da viagem, André não conseguia dormir. Havia um turbilhão rodopiando em sua cabecinha. Levantou-se, olhou suas malas prontas, abriu sua mochila, fechou, foi até a cozinha, tomou um copo d'água, deitou-se novamente. As histórias do pai lhe tomaram como fleshs vivazes. Nelas, projetava o pai ainda criança - pelo menos tentava. Imaginava seu pai pequeno, jogando bola, brigando com algum colega de olhos cerrados, apanhando do avô com um cipó de goiaba. "Nossa, cipó de goiaba. Deve doer paca", pensava enquanto se revirava na cama. Sua mente vagou por cantos e situações, por fantasias bem ornadas com base nas memórias do pai. Por fim adormeceu sem notar.

Chegaram cedo na rodoviária. Embarcaram em cima da hora. O trânsito até lá fora sôfrego e regado a uma interminável garoa pertinente. ajeitaram-se em suas poltronas e partiram. Quando que a gente vai chegar lá, mãe?, perguntou baixinho. Seu pai disse que é uns três dias de viagem, respondeu a mãe com um ar de lamento. "Como é longe", pensou olhando pela janela as pessoas que ficavam pra trás com suas capas de plástico e guarda-chuvas numa paisagem cinza e rebuscada. Horas depois veio a impaciência pela monotonia de não fazer nada, ficar parado, sentado ouvindo o incessante barulho do motor do ônibus. Pegou o celular e abriu um dos jogos. Jogou todos até a bateria descarregar.   

Em certo momento da viagem, André despertou de um sono meio pingado. Pôs a mão na nuca, pressionando-a com força enquanto se espreguiçava. Dormira de mau jeito. Quando se virou para a janela, pode ver um céu azul sem nenhuma mancha branca. Viu vários pontos brancos pastando, espalhados numa enorme extensão verde. Olha, mãe. Olha aquilo, gritou, puxando a manga da blusa da mãe que cochilava ao lado. Cê não sabe o que é aquilo, não?, perguntou a mãe. É boi? Nossa, mas tem muito, soltou, esbabacado com a paisagem  que via. O pai sorriu contente com a surpresa do filho.

Chegaram tarde da noite em Imperatriz. Acorda, rapaz, disse o pai batendo de leve em suas pernas encolhidas na poltrona. Ele despertou meio espantado, esfregando os olhos pesados. Olhou pela janela algumas pessoas dormindo sobre malas e mochilas, outras dormindo sobre papelões ao pé das velhas colunas de uma rodoviária calma, suja e melancólica. Olhou do outro lado e viu uma fila de banquinhas velhas de madeira cheias de enormes panelas e pequenas televisões penduradas, pessoas sentadas em volta, de ombros caídos e cabeças voltadas para seus pratos esfumaçantes. O que é aquilo, pai?, perguntou intrigado. É a melhor comida do mundo. Depois eu te levo pra provar. A esposa o olhou com o canto do olho. Cê vai dar essas comida de rua pro menino?, reclamou com rigidez para o marido. Oh, Angélica, não começa, tá?! Pegaram um táxi,  cansados e aliviados.

Ao chegarem em frente a velha casa, um senhor de uns sessenta e poucos, meio corpulento, abriu a porta para recebê-los. É seu avô, disse o pai que abaixou-se e sussurrou em seu ouvido. Ele ficou meio que atrás do pai, passando o braço em volta de sua coxa. Estava envergonhado. O pai pegou em seu ombro e o puxou de leve de encontro ao avô. Pede a bença pro seu vovô, pediu o pai com suavidade. Sem jeito, ele estendeu a pequena mão que se perdeu na pedrada mão do avô. Não pôde deixar de pensar no cipó de goiaba. O velho o suspendeu subitamente a altura dos olhos para olhá-lo direito. Rapais, tu é bonito. Parece com tua vó, disse olhando pro filho. 

Todos se abraçaram. Houve lágrimas de saudades por parte da mãe que preparou um café pro filho e sua nora. Conversaram sobre a viagem, sobre como e cidade cresceu. Conversaram até tarde. André já dormia a essa altura. Dormia no antigo quarto que o pai deixou. Os pais dormiram no quarto dos avós e os avós dormiram em redes estendidas na sala. Assim ficou combinado por insistência do velho.

Na manhã seguinte, André acordou por volta das dez e meia. Compensara os sonos perdidos no ônibus. Abriu os olhos e estranhou as telhas envelhecidas. Nunca havia dormido numa casa sem forro. Não queria se levantar. Tentou dormir mais um pouco. Virou-se e viu uma janela de madeira trancada por ferrolhos enferrujados. Levantou-se e a abriu. Ela dava para um beco meio largo que dava para a parede de outra casa. Na parede havia outra janela aberta. Dela emanava uma música velha e ininteligível. Passou os olhos pelo beco de ponta a ponta. O piso era esverdeado pelo lodo seco. Reconheceu a avó na ponta do beco que dava para o quintal. Ela estava jogando umas sacolas de lixo numa bacia de plástico. Ela avistou sua pequena cabecinha para fora que rapidamente recolheu para dentro como uma tartaruguinha. 

Sua mãe entrou no quarto com um copo de café com leite. Toma, filho. Toma e vamo na pracinha. Ela é bonita e cheia de árvores. Tem um campinho de areia e uns balanço, disse a mãe esperando ele terminar com o copo. Onde que tá o pai?, peguntou calçando os tênis. Foi na Feira com seu avô. A praça ficava em frente a casa. Não havia ninguém, mas, ela era, mais ou menos, parecida com o que ele havia projetado em sua mente. Cheia de árvores das várias espécies, a praça era meio arredondada. Suas bordas possuíam um tapete de grama já para ser aparada. Um enorme banco de cimento rodeava seu centro arborizado. Pôde ver uns balanços e um escorregador velho sobre um espaço circular de areia rodeado por outro banco de cimento. 

A mãe sentou-se no banco e se pôs a olhar, de cima a baixo, um enorme pé de amêndoa em sua frente. André sentou-se em um dos balanços e o fez girar em velocidade consigo vendo as árvores passarem como um filme acelerado. Ficaram assim, sem dizer nada,  ouvido a algazarra melódica dos pardais. Dentre o canto dos pássaros,  havia um que o fez apurar os ouvidos. Era um canto diferente. Mais afinado e bem mais trabalhado. Parecia ser a melodia do hino nacional. Ele ficou intrigado. Procurou nas copas, nos galhos, levantou-se e procurou até onde a vista alcançasse. Não encontrou o dono daquele canto que o chamara a atenção. Pensou em perguntar a mãe, mas, ficou calado no balanço só ouvindo. Viu a avó olhando-o pela janela da frente. Ela sorriu pra ele com ternura, ele devolveu com um sorriso introvertido.

O pai chegou com o avô e algumas sacolas com frutas, verduras e peixe fresco. Deixaram as sacolas na mesa da cozinha e deixaram as mulheres fazerem o resto. Pegaram duas cadeiras de macarrão e foram para a praça. André foi atrás. O avô puxou conversa com ele sobre como ele andava na escola, se estava gostando de estar ali. André disse que sim e aproveitou para perguntar sobre algum pássaro que ele ouvira cantar de forma diferente. O velho pôs a mão em seu ombro e apontou com a outra para uma casinha toda solta perto da deles.

André seguiu a indicação do avô e avistou a casinha solta. Em frente tinha um pequeno pé jambo e em um de seus galhos havia pendurada uma gaiola contendo um imponente pássaro. Foi aquele alí que tu ouviu, disse o avô. Que pássaro é aquele?, peguntou. É Chico Preto, é pai?, adiantou o pai do menino. Não! É um Currupião. É do véi Vicente. Se lembra dele não?, perguntou o velho a seu filho. Lembro sim. Ele sempre gostou de criar passarinho. Eu me lembro que ele matava os gato tudo da vizinhança. Matava? Por quê?, perguntou André com olhos curiosos. Pra não chegar perto dos passarinho dele, repondeu o pai sorrindo. Ele matava como?, perguntou tentando entender aquilo tudo. Matava com chumbinho. O que é chumbino...? É veneno de rato. 
    
Vai lá vê ele, disse o velho ao André. Mas, num pega na gaiola, não. O Vicente é injoado com o diabo do passarin dele. Ele levantou-se, atravessou a rua e chegou perto. Era um belo corrupião. Comia uma lasca de maçã. André encostou mais o rosto e ficou fascinado com a vibrante coloração amarelo-alaranjada no peito do pássaro em contraste com preto que ia de sua cabeça, passava pelas costas e se estendia por sua empinada calda. O pássaro parou de comer e o olhou de lado. Tinha um olhar penetrante, o globo ocular se movia rapidamente como se o analisasse de cima a baixo de forma zombeteira. Girou a cabeça e voltou a bicar o pedaço de maçã com seu longo e afinado bico de lança. Parecia que André já não existia mais, ali.

Numa tarde de sábado, André estava sentado na janela da frente olhando uns garotos jogar bola no campinho de areia. Achou graça quando um dos meninos pôs toda a força que tinha para chutar a bola, errou o chute e chutou o vento. Foi tão forte que a perna foi para cima e seu corpo caiu na areia. Todos riram a gaitadas. Vai lá jogá, com eles, pediu a avó que estava sentada no meio-fio da calçada. André já se sentia em casa, aquela altura. Por quê não? Pensou. Sentiu-se encorajado a ir, mas, ouviu o canto do corrupião a três casas dali. Permaneceu na janela a prestigiá-lo.

O velho dono do pássaro saiu de dentro da casa e abriu a portinha da gaiola, pegou-o no dedo, deu um beijo na ponta de seu bico e o pôs numa galha. O corrupião cantou um pouco mais e voou para a copa de uma imensa árvore no meio da praça. André ficou encabulado. Não entendera a atitude do velho que entrou na casa sem preocupação alguma. Saltou da janela e ficou olhando a gaiola com a porta aberta, depois se dirigiu à avó peguntando o porquê daquele ato. Calma, bebê. Ele vai voltá. Só foi dá uma volta por aí. Quando ele tivé fome ou sono ele volta pra gaiola. De vez em quando o véi Vicente solta ele pra dá uma voltinha, explicou pacientemente, a avó enquanto passava a fina mão nos cabelos da parte de trás de sua cabeça. Ele resolveu que iria esperar. Esperou até anoitecer e o corrupião não voltou. Foi dormir com isso na cabeça. Onde ele tá, será? Se perguntou até cair no sono.

Acordou cedo, no dia seguinte. Não quis tomar café. Recusou o convite para ir a feira fazer as compras de domingo com os pais e a avó. Foi para a calçada. Viu o corrupião no galho de jambo e seu dono sentado em um tamborete limpando a gaiola. Ficou contente ao revê-lo, levantando uma das asas para coçar as costelas com o bico. O velho pôs sua água e sua comida na gaiola, em seguida o pegou pelo dedo e o pôs dentro. Pendurou a gaiola no galho, entrou na casa, saiu com uma bicicleta, trancou a porta, montou na bicicleta e dobrou a esquina.

Sentou-se na calçada esperando o pássaro cantar. Olhou para a praça vazia. Pôde sentir a satisfação dentro de si que se espalhara por todo o seu corpo. Não queria ir embora dali nunca mais. Levantou-se e foi até a gaiola. Estava alta para ele. Queria ver o corrupião de perto. Pegou o tamborete, olhou ao redor e não viu ninguém. Subiu no tamborete e esticou os braços. Só a ponta dos dedos conseguia tocar na gaiola. Esticou mais ainda. Ficou na ponta dos pés. Conseguiu pegar a gaiola, os pés escorregaram. O couro do tamborete era liso, tentou se apoiar para não cair. Apoiou-se na gaiola e caiu junto com ela. Com a queda, seu peso pressionou o tamborete de forma que quebrou a gaiola. Levantou-se de um susto e viu que o pássaro agonizava com o bico despedaçado embaixo de uma das pernas do tamborete.

Sentiu um golpe súbito que fez seu coração acelerar. Todo o seu corpo esmoreceu e gelou. Saiu dali em disparada, sentou-se na calçada dos avôs, olhou para o corrupião ali se debatendo, no meio da calçada, até estufar o peito luzente, aspirar em pequenas borbulhas de sangue e ficar imóvel. Levantou-se, foi para o beco, sentou-se embaixo da janela da casa ao lado. A mesma música ininteligível saia de lá. Pensou no cipó de goiaba, nos bois pastando. Queria estar lá no pasto, deitado olhando os bois. Encolheu-se, mais ainda. As mãos estavam frias. Chorou com força,  em silêncio, sentindo um aperto agudo dentro do peito.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mais um pouco de caricatura para um anônimo

Mais um pouco de caricatura para um anônimo

Enquanto que, um Pós-Doutor químico, daqui, é taxado de cientista louco e curandeiro xamã, em uma cidadezinha do interior do Maranhão, um vereador é preso por participar de uma quadrilha de assaltantes de bancos, em uma outra que carrega o nome de duas frutas, eu acho, o evento mais notório do ano (ou em anos) foi a inauguração de uma cadeia cubicular, onde teve a banda municipal com seu militar traje vermelho a rigor, povo batendo palmas, prefeito cortando a tradicional tira simbólica, tudo coberto pelo sistema Mirante de comunicações, um conhecido escrivão da civil, metido a mocinho de faroeste limpinho, no último carnaval, tem sua arma tomada, leva umas bordoadas e ainda tem sua cuidada cabeleira puxada por um PM do Pará, um jornalista, daqui, acusa um vereador, também jornalista, de fazer merda e com a merda espalhada, o vereador jornalista ameaça dar uma surra de cinturão no companheiro jornalista, o Rio de Janeiro é palco de mais uma moda dos retardados norte-americanos e eu, cabeça de indecência, aqui, dando milho para as galinhas, sentado no Mustang Drink's, assistindo uma obesa dupla de sertanejo cuniversitário cantando uma música do Balão Mágico (ou Trem da Alegria?), tomando uma cerveja e esperando o sono me enxotar para casa.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sono duplicado

Sono duplicado

Por onde anda esse teu sono delicado,
longínquo ante meu torto orgulho?
substância reduzida à vil entulho
que se amontoa no delírio consumado.

Destilados perfumes vêem coroar
uma meia-luz azedo-amarelada
que banha minha força despertada,
opressora do meu querer despertar.

Não seria teu sono, assim, duplicado
em tamanha essência, que o meu é roubado?
Meu preço é o romper d'um limite destruído,

minha cama, um concílio destituído
do consenso de dormir meu sono roubado
pela vontade do teu sono, assim, duplicado.





quarta-feira, 30 de março de 2011

Chicoteando o ar

Chicoteando o ar



Quem não espia os teus passos exibicionistas?
O quão belos devem ser teus espelhos mentirosos,
rufando em teus fedorentos desejos narcisistas
alimentados por cédulas e paus misteriosos.


Quem não te ama no instante de tua passada
pelas jaulas, leitos e chiqueiros alcoolizados?
"Uuuui, cachorra escrota. Ahhh, cadela desgraçada.
Adoraria te amar só para ouvir teus estalados!”



E assim, teus cruéis espelhos continuam omitindo
à propósito de teus belos êxitos extracurriculares,
dos dourados vazios que te vão introduzindo
à cada química plástica em silêncios particulares.



A noite sempre espera por teu batom cheiroso
com a pesada maquiagem que derrete em agonia
pela espera de um especial condutor seboso
que te amará hoje para te esquecer noutro dia.












terça-feira, 15 de março de 2011

A ponte do rio que cai

A ponte do rio que cai


Mãe, prenderam o Fernando.
É o quê minino?
A policia levô o Fernando preso.
Que cunveça é essa, meu fie?
Ele tava lá no Gil cum o Henrique. Aí, a policia chegô e levô eles dois algemado.
Minino conta isso direito. Quem é Henrique?
É o goiano, que estuda cum ele. Foi inda gorinha.
Como assim? Como foi isso?
Eles tinha saido da UEMA e foram pro Gil bebê. Ele o Henrique. Demorô uns quinze minuto e a policia chegô algemano eles dois.
Minino... e foi assim do nada?
Do nada! Só chegaro e levaro. Num sei que merda foi aquela, não. E ôta; o Edvan já tava dentro da viatura algemado, também.
Valei-me minha nossa Senhora, o que é isso meu Deus do céu!?
Vô lá no Gil vê isso direito.
Minino, esp...


Três meses antes
(A idéia)


Bar do Claudeci. Um bêbado tenta se equilibrar na cadeira. Em uma mão, um copo de vereda, na outra, uma colher de pedreiro encrespada de cimento seco. Ele joga a cabeça para um lado e  vomita enquanto os três têm uma conversa abafada pelo som de Jorge e Matheus. Já vão passando de meia grade de Antarctica.
Já sei. Vai ser com uma corda.
Como assim? inforcá ele, é lôco?
Nã, animal. Tu num disse que ele vem pra cá de moto escondido da tua mãe torá um gato véi lá da Vila Nova?
É.
Então! Agente pega ele lá na ponte.
Êita, ponte do cão. Eu trabalhei nela, sabia?
Tá bom, meu sinhô. Porra, que bêbo chato do caralho.
Sim, meu fie, como?
Eu fico de um lado e tu fica do outro. Agente segura uma corda grande. Eu numa ponta e tu na outra.
Vocês já tão é chapado, mermo? Que porra de cunversa é essa?
Tipo, o que os mala fais pra robá moto, é?
Exatamente! Assim não tem como ninguém discobrí. E a gente nem vai sujá as mão cum aquele nojento. É rapidão.
Eu quase morro na construção daquela ponte. Mas, ela é do Jackson. Num é da Roseana, não.
Rapá eu vô dá um pau nesse pé inchado, moço.
Uai, lôco. Calma, o cara tá chapado. Mas, que dia? E a gente vai como?
No carro do pai do Fernando.
Do meu pai? Tu é doido, é? Vai se fudê, num vô entrá nessa merda, não.
Pió, Fernando. Vamo lá, porra. Tu só vai dirigí.
É, moço. Relaxa. É o siguinte: o Henrrique diz pra mãe dele que vai durmí na tua casa. Tem que sê num dia que o negão fô na casa da rapariga dele. Aí, tu pega o carro pra gente tomá um gelo, aqui no Claudeci. Espera dá mais ou menos a hora do negão vazá pra Bela Vista, e espera lá na ponte com a corda. Tu só vai ficá no carro esperando ele caí e a gente entrá no carro. Pronto, moço. Morreu Maria preá.
Pió, fie. Assim fica como se fosse uma tentativa de rôbo, né?
Mas tu é inteligente, né goiano corno?!
Vá se fudê!
E aí, Fernado? umbora?
Só se vocês botá umas grade no meu aniversário, semana que vem.
Beleza.
Uma grade? Onde é?
Rapá... Ê, Claudeci, traz mais uma gelada aí e volta o DVD do começo. Rapá, eu vô largá a mãozada nesse bêbo...
Te senta aí, lôco. Dêxa o cara.

A imprensa


O alvoroço é imenso dentro da delegacia. Uma penca de repórteres se amarrotam entre outra penca de policiais e curiosos. A suadeira coletiva exala um odor quente de azedume humano. Os três estão sentados num banco de madeira. Camisetas cobrindo os rostos. Algemados.

 Henrique e Fernando estão unidos pela mesma algema. Fernando chora incontrolavelmente. Edvan Tem os pés em cima do banco e a cabeça enterrada entre os joelhos. Uma repórter loira consegue a proeza de se aproximar, com muito esforço, e enfiar o microfone dentro da camiseta de Henrique.

Porquê vocês fizeram isso?
isso o quê?
Matá um cidadão lá na ponte?
Sô só suspeito, uai. 
Um dos seus comparsas admitiu o crime. E aí, o que tem a dizê?
Num vô dizê nada, oh. Tira esse trem da minha boca!
Hummm, tá veno aí, minha gente. Ainda é arrogante. Tá veno como é as coisa minino da câmera? Pense num rapais bruto. Vamo falá, aqui, cum o sargento Ribeiro  que comandou essa incrível operacão que resultô na prisão dos suspeitos. Sargento, recebemos a informação de que um deles confessô, é verdade?
Positivo. Chegamos até os meliantes através de uma investigação minuciosa. Os meliantes se incontravam num bar nas proximidades da UEMA.
É verdade que eles são universitários?
Positivo. Segundo um deles, eles estudam na UEMA, fazem curso de medicina veterinária.
Vocês já sabem o motivo do crime?
Ainda não. Mas, encaminharemos os meliantes para que o delegado de plantão possa tomá as medidas cabíveis e interrogá os meliantes a respeito desse grave agravante.
Pois tá aí, minha gente, tá aí a polícia mais uma vez de parabéns pela captura desses... dos suspeitos de ter ceifado de forma disumana, a vida de um serumano. Pense nuns minino ruim.

Dois meses e meio antes
(Da prática posta na ponte)


Mustang Drink's. Casa cheia. O sertanejo universitário e as tegarelices de vários "famistas", comendo espetinho abafam, mais uma vez, a conversa dos três.

E aí, goiano, tu falô pra tua mãe que ia dormí na casa do Fernando?
Falei. Tá de boa.
E o negão?
Tá lá em casa uma hora dessa. Mas, ele vai vim pra casa da puta dele. Só vai disdobrá a mãe dizeno que vai pra casa e pegá a moto pra descê.
E que hora ele volta pra Bela Vista?
Umas doze e meia.
Mas, é certo?
Acho que é.
Porra, tu acha?
Ah, fie, num tem como sabê a hora exata, não.
Porra, agente tem que achá um jeito de sabê quando é que ele vai saí.
Rapá, vamo fazê o seguinte: eu fico veno a hora que ele vai saí da casa da muié. Daí, eu telefono pra vocês.
E quem é que vai dirigí?
O goiano.
Sim , meu amigo, e quem é que vai segurá a ôta ponta da corda?
Ah, doido, se vira lá. Já pensei foi demais.
Pronto. O goiano fica no volante e eu amarro a ôta ponta na grade da ponte. É até melhó. Fica mais firme, a parada.
De boa então.
Beleza. A corda tá no carro.
Porra. O pai disse pra mim vim cedo pra casa.
Relaxa, moço. Vamo só na ponte e volta. Senta aí, vamo tomá uma. Quando dé umas onze e quarenta a gente te dêxa perto da casa da rapariga e vamo pá ponte.

...

Bicho, se isso num dé certo?
Rapá, Fernado, que porra. Parece que tá agornano a parada.
Sim, moç...
Moço tu num vai fazê nada. Só vigiá o negão.
Pois umbora logo. Já é mais de onze.

Deixaram o Fernando numa budega perto da casa da amante. A moto ainda estava na calçada. Sentou-se e pediu uma cerveja.

Quando ele saí tu liga, porra. Num vai vacilá, não.
Tá, tá bom. Vão logo.
...
Espera... tu tem crédito?
Tu num tem não?
Tenho não, ó doido.
E comé que tu ia ligá, disgraçado?
Ôxe. À cobrá.
Ah, meu pau.
Eu tenho, porra, vamo. Pode ligá pro meu.

Voltaram pro Mustang a fim de recaptular todo o prossesso na ponte, além de fazerem questão de serem vistos ali, bebendo tranquilamente. Henrrique lembrou-se de ter trago na mochila um par de luvas de couro grosso de um dos vaqueiros da fazenda de seu avô.

Pra quê essa luva?
Touxe pra ti. Pra tu pôr quando segurá a corda.
Pió, maluco, senão corta a minha mão.
Pois é, fie.
Papá, tu é inteligente mermo né, barrão cumedô de piquí?
Seu cú.

A música Sinais de Luan Santana emitira-se do bolso da bermuda de Edvan. Era seu celular chamando.

Vê se é o Fernando.
É. Fala. Agora? Tá, tá bom.
E aí?
O negão tá na porta cunveçano cum a muié. Vamo, logo. 

Pagaram a cerveja e entraram no carro às pressas. Chegaram rapidamente na ponte. Estava escura e deserta, como esperado. Pararam pouco antes da sua metade. Edvan amarrou firme a ponta da corda na grade de segurança. Luan gemeu, mais uma vez, de seu celular.

E aí? Beleza.
Era ele?
Era. Disse que o negão já vazô de lá.
Então eu vô lá pra frente e tu fica aí intocado.


Edvan estendeu a corda até o outro lado da ponte e pôs as luvas. Sentou-se no acostamento. Queria fumar, mas o cigarro ficou no carro. Pareceu esperar uma eternidade até avistar uma centelha vindo. Apurou a vista pra ver se era um único farol. "Tem que ser só um. Só serve se fô um olho", pensou, tentando controlar as leves tremulções de suas mãos. Era só um farol. Só uma moto. Só sua deixa.

Levantou-se, pegou a corda e a passou em volta de um dos grossos cabos de sustentação. Teve a estranha paciência de levantá-la para calcular a altura do pescoço. Baixou-a novamente e ficou encolhido. Colocou apenas o rosto a mostra para saber o momento certo. Segurou até pouco menos de dez metros de distância entre ele e a centelha que vinha. Segurou firme e suspendeu a corda. O motoqueiro vinha tão rápido que o impacto de seu pescoço na corda fez Edvan dar um pulo pra frente. Mas, foi o suficiente para seu capacete sacar, a moto seguir um curto rumo ignorado até capotar e cair no acostamento e o motoqueiro dar uma pirueta desingonçada e mergulhar de cabeça no asfalto.

O "acidente" foi tão rápido que Edvan só pôde ver o sujeito estirado no chão e a moto bem à frente, ainda funcionando. Ele não ousou chegar perto do corpo imóvel. Atravessou pro outro lado enquanto enrrolava a corda e desatou o jogando-a no rio. Correu em direção ao Henrrique que já voltava a toda velocidade. Entrou no carro já procurando os cigarros. Os farois iluminaram o corpo que estava de costas para eles. Henrrique pensou em passar por cima para garantir o serviço. Mudou de idéia no último instante. Não teve coragem. Tentou tirar o carro, mas, os pneus ainda esmagaram as pernas. Pisou no acelerador com vontade. Novamente o gemido de Luan chamou no celular.

A gente já tá ino, porra. Tá, tá. Tamo chegando aí.
E aí?
Ele pegô um moto-taxi e foi pas pexaria. Tá idignado.
Nã, fie. Tô falano do negão. 
Quê que tem?
Ora, o quê que tem?! Como foi?
Oxente! O cara caiu e pronto.
Será que ele tá morto, mesmo?
Rapá, se num tivé é porque tá cum a besta-fera.
Caralho. Inda bem que num fez muita zuada. Eu quase num ouvi.
E eu, que num vi foi nada.
Como assim, lôco? Tu num tava lá?
Tava, porra. Mas, foi ligêro demais.
Relaxa, fie. Vamo tomá uma na pexaria.
Nã, doido, vô pra casa.
Sim, moço. só uma, aí a gente desce.
Bicho, tu mãe gosta, mermo, do negão, né?
Tu é doido?! Parece até macumba. Mas, tá de boa. Daqui uns dia ela esquece ele.

Na manhã seguinte Edvan foi acordado pelo velho gemido de Luan ao lado de seu traveseiro. Já era a quinta gemida até ele ouvir. Pegou o celular de olhos fechados e atendeu. À cobrar. Retornou.

Oi. ... O quê? .... Como assim? ... Ela tava cum... .... Mas, eu... ... Caralho. ... Não, eu só puxei e saí for... ... Merda. Será quem era?

Já eram dez. Henrrique e fernando ainda dormiam. O "goró" na peixaria se estendera, um pouco. O sono fora cortado pelo chamado do pai de Fernando.

Ê, rapais, acorda. Tão te chamano aqui fora.
Quem, eu?
Não. O goiano.
Eu?
É.
Quem é?
Acho que é tua mãe. É a tua cara?!
Uai, minha mãe? O que ela qué aqui?
Sei não, mas tá apressada.
Tá, eu já tô indo.
Merda, será...?
Nem me fale. E aí?
Vô lá, uai. É o jeito.
Segura a onda, doido. Fica de boa.
Eu sei, eu sei.

Vestiu a calça, limpou as remelas com as unhas e se levantou. Antes de chegar na porta do quarto olhou pro Fernando sentado na cama em expectativa. Serrou os lábios e fez uma afirmação positiva com a cabeça. O sono se esvaia a cada passada que dava na sala. O pai de Fernado o esperava na porta a fim de não deixar o cachorro escapara pra rua. Ele cumprimentou-o e chegou na área.
 Viu a parte traseira da caminhonete do avô. Atravessou a área e chegou na rua. Viu sua mãe no banco do carona e seu namorado com a cabeça recostada no volante. A cabeça que deveria estar quebrada no meio da ponte. A mãe o olhou com desaprovo.

Meu fie, isso é hora de acordar na casa do zôto?
É... é que a gente jogô video game até tarde.
Pois entra no carro logo. O teu vô tá uma arara, lá na fazenda. O Riba vêi me dêxa no consultório pra mim fazê uns exame e ocê tem que ir cum ele comprá ração e levá pro seu vô. 
Peraí que vô buscá minha muchila.
Anda logo, minino.

Ele entrou rápido e fechou a porta do quarto.

O negão tá lá fora cum minha mãe.
O quê?
Ele tá lá fora, porra.
Como assim?
Num sei, ué. 
Que porra...?
Eu tenho que ir. Liga pro Edvan.

Riba, o "negão"


Riba a beijou forte nos lábios e subiu na moto promentendo pegá-la de manhã bem cedo. Iria deixá-la no consultório para cuidar dos últimos detalhes de sua redução de estômago. Fez que foi pra casa, mas passou direto. Entrou numa estradinha de chão que dava pra pista que entrava na ponte. Foi pra Imperatriz. Pra Vila Nova. Pra outra. Tinha pressa em chegar. A outra era impaciênte. Pudera! Ela não sabia muita coisa dele. Se era casado, emancebado, se tinha emprego. Se tinha dinheiro.
Ele se gabava por ter uma bela galêga goiana na sua. E ainda sim, se dava ao luxo de usufruir de guloseimas baratas na cidade ao lado. Ele. Um reles pião piauiense. Chegou rápido, desceu da moto e bateu na porta. Ela saiu com uma camisola de algodão. Baixinha, morena de pele achocolatada, cabelo bagunçado, quebradiço, cheirando a colcha de cama esquentada. Ia esbravejar. Ele foi rápido em beijá-a e calá-la. Entraram. 
Ele foi rápido, mas eficiente nas carícias e atenções. Tinha que acordar cedo. Já ia dar meia noite. Abraçou-a mais uma vez na calçada prometendo levá-la pra sair no dia seguinte. Deu partida e sumiu na esquina. Chegou na BR, atravessou, passou em frente a rodoviária. Sentiu o cheiro da panelada correndo pela pista. Lembrou que não havia jantado. Deu meia volta quando já estava em frente o aeroporto. Se ajeitou em uma das banquinhas e pediu um prato com um adicional de sarapaté de bode. 

Da investigação


Reginaldo havia sido promovido, recentemente, a cabo da polícia militar. Adorava quando alguém o chamava de cabo Machado. Costumava pingar de boteco a boteco pra bebêr umas latinhas antes de ir atrás de umas "éguas" no "curral".

 Uma dessas pingadas era no bar Do Claudeci. Desceu de sua Bross sem placa. Uma geladinha aí, jogadô, pediu ao propriétário. Sentou-se numa mesa perto do balcão onde três homens sujos tomavam doses temperadas. Ao lado dos copos havia ferramentas sujas de pedreiro. Conversavam sobre o Ronaldinho gaúcho ir para um circo, e não para o Flamengo.

O cabo da PM ouvia sem escutar, olhando pro buraco da latinha enquanto a balançava de leve. O pedreiros agora falam sobre um tal trabalho à vista, aquele que ainda falta terminar, ou aquele outro que foi mais irritante que a constução da bendita ponte. Ao tocarem nesse último assunto, um deles disse que, certa vez, passou raiva com uns moleques que o desrrespeitaram. Logo ele, que é trabalhador, pai de família. Só porque eu tava bêbo, porra, disse injuriado. Como foi isso? perguntou um dos amigos. Eles tava alí fora bebeno. E eu tava ali do lado tomano uma. Daí cumeçaro a falá da ponte, de derrubá cum uma corda num o quê mas lá. Num lembro direito não. Eu tava só a bosta. Mas, mermo assim, esse povo de hoje num respeita ninguém mais não.
A última parte do relato do pedreiro chamou a atenção do cabo. Ele perguntou ao pedreiro que dia foi o episódio. Rapais, já tem uma semana, maisomeno, eu acho. Perguntou se os conhecia. Ele disse que nem lembrava da cara daqueles "imundo". Como assim, esse negócio de derrubá cum corda na ponte?, inssistiu o cabo. Moço, eu tava bêbo demais e... espera aí. Êi, Claudeci, que dia foi aquele que eu vomitei tua calçada todinha?, perguntou o pedreiro sem serimônias. Rapais, acho que foi... quinta... não. Sexta. Foi sexta passada, nojento, respondeu Claudeci com uma brincalhona cara de nojo.
 Poís é, e tu se lembra dus minino que tava bebeno aqui fora? Parece que era três. Lembro. Tu abusô eles pá carai, aí. O cabo não perdia nada da conversa. Quem é aqueles muleque?, continuou o pedreiro. Rapá, eles são da UEMA. De vez em quando eles vem aqui. O cabo pegou o celular sem alarde e foi pra calçada. Alô, sargento?! 

O motivo


Anápolis. Goiás. Minerva Casara-se com seu belo primo, paixão de infâcia. Foi um belo casamento sortido e abeçoado pelo pai, um rico proprietário de extenças terras onde cultivavam o plantio de tomate. Não tardou a chegada de um filho. O querido xodó de todos, Henrique.
As mil maravilhas foram se esvaindo com desgaste de um casamento prematuro. Ela engordou demasiadamente. O pai não ia bem com as plantações. Vendeu as terras e se aventurou em outras que estavam começando a crescer. Foi parar em Bela Vista do Tocantins. Quando ela se deu conta, o primo que se tornára seu marido agora era seu ex. Sozinha e com o Henrique em fase de crescimento, se viu na obrigação de partir. Lá estava ela na porteira da fazenda do pai.
O velho se dera bem com as águas do rio Tocantins. Investira em gado e criatório de tambaquis. Como o sangue fala mais alto, acolheu a filha e o neto. Como um autêntico goiano, Henrique cresceu rapidamente. Estudou e conseguiu passar pro curso de Medicina Veterinária, na UEMA. Foram comemorar na Praia da Belinha. O velho, todo orgulhoso, convidou todos os piões. Era cachaça pra lavar os pés. Minerva contente emborcava com gosto. Foi lá que viu, direito, o Riba, um dos piões. Riba percebeu os flértes e procurou agilizar. Deu certo.
O namoro começou dali. O velho não admitia sua filhinha se emancebar com um preto cachaceiro. O demitiu. Não adiantou. Bateu o pé até cansar. Se cansou. Henriquei não conseguia se cansar. Volta em outra, ele encasquetava com o namorado da mãe. Sempre quando saia da UEMA com uns amigos de sala, Henrique relatava que quase saira no braço com "aquele preto discraçado". Já era corriqueiro vê-lo revoltado por ver sua mãe, "uma mulher nova, linda, de olhos verdes..., uma goiana de família tradicional, se agarrá cum aquele macaco nojento".
Os amigos sempre ouviam calados. Pricipalmente o Edvan. Ele não a tirava da cabeça desde a primeira vez que a viu. Certa vez, em um desses depoimentos revoltados de Henrique, Edvan fez uma propósta com um ar de graça para ele.

Ê, goiano, eu tenho uma idéia.
Idéia?
É. Tu tem raiva do negão. E eu também. E tu sabe porquê que eu tenho, num sabe?
Sei, mais e daí?
A gente mata o negão, eu fico com tua mãe e aí vô sê teu padrasto.
Hahahahaha. Já pensô? Ia sê massa de mais, fie. Tu sê meu pai.         
 
























quinta-feira, 10 de março de 2011

Ilustração

Ilustração de Luiz Diniz, o mordomo subterrâneo
 Obra exposta no Mustang Drink's.

quinta-feira, 3 de março de 2011

A breve história do carvanal de um prefeito


A breve história do carvanal de um prefeito


Resposta ao último comentário do leitor Olho da XV.


São pouquíssimos os "privilegiados" que tomaram conhecimento da triste história de carnaval do pacato prefeito Tião Compensado. Como de praxe, no carnaval das marchinhas na Praça da Cultura, ele tinha a enfadonha obrigação de subir no palco e proclamar a abertura do concurso de marchinhas e blocos de rua da cidade.

Subiu com seus capachos e vassalos  de baba fresca para parabenizar "aquele povo bonito que embelezava o carnaval patrocinado pela prefeitura...." Enquanto discursava, as vaias dos foliões lhe comiam o coro sem dó. Por ser o Prefeito, não lhe convinha responder aos disparates do "senso comunzinho". Ignorou como um bom político matriculado e concluiu suas honrarias, já batidas. Desceu do palco para o outro espetáculo esperado: a folia.

Pegou o carro e foi pra casa. "Povinho nogento", pensou com alívio ao sair dali com sua vergonha aguda entre as pernas. Não era de bebedeiras avulsas, mas, ao chegar em casa, deu um tapa fudido num largo copo cheio de Cavalo Branco. Ouviu uma voz baixa vindo da cozinha. Era a elegante primeira dama. Falava no celular. Ele ficou curioso com o tom da voz e aproximou-se na surdina. Hoje não. Tá louco? Amanhã eu te ligo e a gente marca direito. Te amo, tá?, ela disse rápido e com uma doçura forçada.
 Ele emaranhou os dedos nos sedosos cabelos dela e perguntou que merda era aquela. Obviamente que ela tentou desdobrá-lo, mas sem êxito. O flagrante tremula os lábios e ofusca o raciocínio. Ele deu outro tapa violento no uísque. Refletiu. Perguntou quem era o sujeito. Nada. O Cavalo Branco já lhe coiçara o juízo. Tomou a primeira dama nos braços com força e lhe deu bofetadas no rosto até obter a informação que queria. Conseguiu. Era um garotão sarado que trabalhava na saúde, filho de seu motorista. Olhou o rosto amassado da mulher, pegou a garrafa de uísque, entrou no carro e cantou pneu.
 Emborcava o Cavalo pelo gargalho, enquanto dirigia a deriva. Era carnaval. A cada golada o Cavalo Branco lhe comandava os arreios. Bateu na Beira-rio. Conseguiu uma vaga na XV de novembro. Distante, mas conseguiu. Se pôs a andar na direção que os arreios do Cavalo Branco mandava. Encontrou uma máscara do Barack Obama no chão. "Eu sou o prefeito, porra. Ninguém pode me ver assim, não". Pôs a máscara e desceu a ladeira costurando-a com cuidado.
 O Cavalo Branco, por fim, o abandonou. Jogou a garrafa numa calçada e comprou uma latinha. Pulou atrás do trio. Levou dedada nos fundos, passou a mão em outros, chupou na língua de traveco loiro enquanto deixava um rastro enorme de latinhas na avenida. "Eu sou o prefeito dessa merda. E o Barack Obama tá me protegeno, nessa putaria do caralho".

A bexiga encheu e foi trocar o óleo. Desceu rumo as latrinas públicas. Estavam todas ocupadas. Um monte de bêbados mijavam na grama. "Foda-se", foi pra detrás de uma latrina e descarregou com vontade. O fedor de mijo azedo espalhado por toda parte o deixou enjoado. Sentiu um troço ponteagudo no rim. Umbora, porra, passa a cartêra. Ligêro, ligêro.
O mijo foi cortado devido o susto causado pela lâmina da faca que reluzia. Escorregou no seu e nos demais mijos que ali foram jorrados na grama, causando um gigantesco lameiro preto. Caiu de cara no lameiro sentindo o gosto ácido e azedo nos lábios. Eu sou o prefeito, rapais, afirmou tirando a máscara do Obama. Prefeito é o caralho, vagabundo. Se tu fosse o prefeito tu num tava aqui todo mijado não, viado, gritou o assaltante levando seu relógio e sua carteira. Ele ficou lá na grama sentado, enlameado de mijo com terra. Pôs de volta a máscara do Barack Obama no rosto e chorou ao som de Chicabana.










segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Carnaval

Carnaval



Sou de Imperatriz. Nascido d'um condado paraense. Marabá que o diga. Eu, o único da família. Nascente duma terra desinibida. Respiro a mais quente baforada que essa Imperoza deixa exalada. Do cais fedorento que ofende a ressaca ao bar em cimento sem reboco e calçada. Bolo em rebolo ao longo da Benedito em velocidade absurda que nem acredito. Desembarco em rebolo na Praça União à prestar em consolo uma comunhão.
 Com os velhos vou ter um etílico sarau de sambão em marchinha pro meu carnaval. Respiro o compasso da XV de novembro que corta o vento em saudoso contra-tempo. Beira-rio não me ver com esse axé pra TV.
 Meu samba é marchado e sem ruptura com o povo fantasiado na Praça da Cultura. Meu som tem um cheiro de amor trabalhado. Sem PMs boleiros de batuque estereotipado. Minha roda tem tucuns,  missangas dos afros. Sem douradas correntes em pescoços ornados. É da Mané Garrincha que em comoção meu peito se incha. Marchando a cidade velha em meu bloco soprado em caravela. Moro nessa Imperoza com o pé descalço no  chão. Sem um fusca, muito menos um violão. Mas, o que me valha é ser bem Flamengo e ter uma nêga chamada Natália.  

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Tendências




Temos, aqui, na passarela do Mustang Drink's nosso querido modelo Alain Delox nos mostrando a nova tendência desse verão provinciano. Uma mini-bermuda transadíssima com o forros dos bolsos a mostra. Isso é moda. Antigamente era sinônimo de mendiguísse e liseira. Vai entender. Moda é moda. Ela encabresta a estética dos bonequinhos.