Manhã de natal
De quando em quando, meu espírito natalino se esbarra em alguma tragédia natalina. Geralmente, tais fatídicos letais me vêem com o perfume de sangue e álcool.
Há alguns natais, um conhecido meu esfaqueou dezenove vezes sua esposa numa esquina perto da minha. "Vô matá o diacho dessa muié", resmungou para o dono do bar. O velho Demar. Quem acreditaria em um bêbado de saco cheio de sua companheira?
A manhã de natal desse resto de 2010 foi perfumada com essa peculiar e soturna fragrância traumática. O perfume exalou-se e resvalou-se de forma ainda mais penetrante devido a umas das faces vergonhosas de nossa grande Imperaprovíncia.
Eram nove da manhã. O cara vinha pela Aquiles Lisboa. Vinha em sua Titã envenenada pelo peso de sua aceleração frouxa. Vinha "vuado" como quem vem do "pêxe pôde". Livremente varando os cruzamentos com o poder concebido pelos festejos natalinos. Não conseguiu varar um evangélico Gol branco que vinha em sua preferencial, como quem vem do bar do Gil, na Godofredo Viana. O seu poder de liberdade motorizada não conseguiu varar a porta do evangélico Gol que vinha em sua tranqüilidade. Seu capacete desafivelado ejetou com o forte impacto, abandonado sua cabeça para o rijo asfalto quente.
Ossos estalaram com o forçado pouso em frente ao bar-restaurante-meu escritório Mustang Drink's. Agonizou por alguns instantes em meio ao sangue borbulhante que brotava de sua garganta relutante. Por poucos instantes, até morrer no meio da rua, em frente o lugar onde, pouco antes, bebíamos com o velho espírito natalino. Não havia ninguém na solidão daquele cruzamento em repouso até ser ornado pela mistura de cores entre a Titã envenenada, o evangélico Gol, o sangue alcoolizado e o rijo asfalto quente.
É como se o sangue de um acidente acionase a sede ocular dos plebeus. O enxame chegou rapidamente para o espetáculo horrendo. Aglomeraram-se com uma ânsia de asco sem saberem que aquilo tudo iria demorar por muito tempo. A policia estava lá. Mas, só estava apenas. Os enxames iam se revezando na medida em que o sol ia esquentando e a poça de sangue ia coagulando. O Mustang teve que fechar as portas. Não tinha como os clientes cearem com a imagem de um cara que "morreu na contramão atrapalhando o tráfego."
As horas iam passando. O sol ia secando o couro morto do infeliz. Já estava dando meio-dia. A mãe e a esposa não suportaram ver o querido ente jogado no meio da rua como um presunto de natal servido para a fomentação ocular das platéias que iam e vinham. Uma senhora teve o bom senso de por um lençol sobre o cadáver todo quebrado.
As horas passavam. O mau cheiro começava a dar o ar da desgraça. Já eram quase três da tarde. A exposição continuava a fadigar. As autoridades alegaram que o Homen ainda estava ali pelo fato de o IML só ter uma viatura que estava ocupada no município de Boritirana. Só uma viatura. Para atender a nossa grande Imperaprovíncia. Um ser humano, pagador de impostos, humilhado até depois de morto, servindo de carne de sol para quem quisesse ver. Enquanto isso a governadora, em nome de toda a sua famiglia, deseja um feliz natal e um próspero ano novo.
Há alguns natais, um conhecido meu esfaqueou dezenove vezes sua esposa numa esquina perto da minha. "Vô matá o diacho dessa muié", resmungou para o dono do bar. O velho Demar. Quem acreditaria em um bêbado de saco cheio de sua companheira?
A manhã de natal desse resto de 2010 foi perfumada com essa peculiar e soturna fragrância traumática. O perfume exalou-se e resvalou-se de forma ainda mais penetrante devido a umas das faces vergonhosas de nossa grande Imperaprovíncia.
Eram nove da manhã. O cara vinha pela Aquiles Lisboa. Vinha em sua Titã envenenada pelo peso de sua aceleração frouxa. Vinha "vuado" como quem vem do "pêxe pôde". Livremente varando os cruzamentos com o poder concebido pelos festejos natalinos. Não conseguiu varar um evangélico Gol branco que vinha em sua preferencial, como quem vem do bar do Gil, na Godofredo Viana. O seu poder de liberdade motorizada não conseguiu varar a porta do evangélico Gol que vinha em sua tranqüilidade. Seu capacete desafivelado ejetou com o forte impacto, abandonado sua cabeça para o rijo asfalto quente.
Ossos estalaram com o forçado pouso em frente ao bar-restaurante-meu escritório Mustang Drink's. Agonizou por alguns instantes em meio ao sangue borbulhante que brotava de sua garganta relutante. Por poucos instantes, até morrer no meio da rua, em frente o lugar onde, pouco antes, bebíamos com o velho espírito natalino. Não havia ninguém na solidão daquele cruzamento em repouso até ser ornado pela mistura de cores entre a Titã envenenada, o evangélico Gol, o sangue alcoolizado e o rijo asfalto quente.
É como se o sangue de um acidente acionase a sede ocular dos plebeus. O enxame chegou rapidamente para o espetáculo horrendo. Aglomeraram-se com uma ânsia de asco sem saberem que aquilo tudo iria demorar por muito tempo. A policia estava lá. Mas, só estava apenas. Os enxames iam se revezando na medida em que o sol ia esquentando e a poça de sangue ia coagulando. O Mustang teve que fechar as portas. Não tinha como os clientes cearem com a imagem de um cara que "morreu na contramão atrapalhando o tráfego."
As horas iam passando. O sol ia secando o couro morto do infeliz. Já estava dando meio-dia. A mãe e a esposa não suportaram ver o querido ente jogado no meio da rua como um presunto de natal servido para a fomentação ocular das platéias que iam e vinham. Uma senhora teve o bom senso de por um lençol sobre o cadáver todo quebrado.
As horas passavam. O mau cheiro começava a dar o ar da desgraça. Já eram quase três da tarde. A exposição continuava a fadigar. As autoridades alegaram que o Homen ainda estava ali pelo fato de o IML só ter uma viatura que estava ocupada no município de Boritirana. Só uma viatura. Para atender a nossa grande Imperaprovíncia. Um ser humano, pagador de impostos, humilhado até depois de morto, servindo de carne de sol para quem quisesse ver. Enquanto isso a governadora, em nome de toda a sua famiglia, deseja um feliz natal e um próspero ano novo.