quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A mesma "Ladainha"

 
A mesma "ladainha"

Ele estava sentado. Bem acomodado na cadeira de macarrão, de tardezinha, na calçada. Do lado da sombra. Sentia um leve cansaço latejante nas pernas. Não fizera nada em suas férias desperdiçadas. Só coçava os ovos assstindo o movimento da rua.
 Viu duas garotinhas vindo lá da esquina. À pé. Acompanhou a aproximação das duas. Uma era magrinha, vinha pela beirada da calçada. Meio alta, branca. Tinha o cabelo castanho preso. Vinha com um vestidinho fino e amarelo. A outra era um pouco mais baixa. Vinha pelo acostamento. Morena. Meio robusta da cintura pra baixo. Cabelos bem longos. Negros. Cortinando as costas nuas. Vestia um short de algodão branco. Bem curto.
 Ele recostou-se nos macarrões da cadeira. As formas das ninfetas já estavam bem nítidas no enquadramento de seus óculos cuidadosamente aprumados. Elas vinham dando pequenas gargalhadas.
Dois moleques vinham numa bicicleta, lá atrás. Rápido. Aproximaram-se delas, rápido. Ficaram rente a do acostamento. A do shortinho de algodão. O da garupa lhe desferiu um estalado tapa. Na bunda. Ele ouviu um estalo estridente de bunda se espalhando como ondas pelo quarteirão. Um estalo que lhe tirou a concentração. Os moleques gritaram de excitação. Passaram em sua frente.
 Por um  súbito impulso, ele rebolou a cadeira de macarrão no pneu dianteiro da bicicleta. Os dois caíram no meio da rua. Ele se aproximou. Pegou os dois pelo pescoço. Sua mulher saiu na porta com os filhos curiosos. Espantaram-se com a cena. O que é que tá conteceno?, perguntou ao marido com os dois gravetos pasmos  nas mãos. Esses bosta, aqui, que passô bateno na menina ali.
 Envergonhadas, as garotinhas voltaram pelo mesmo rastro em passos apertados. Soltou um e apertou ainda mais o pescoço do outro. O autor do feito “abominável”. Tu ainda vai fazê isso, moleque?, perguntou cerrando os dentes. Vô não, moço, respondeu engasgando-se com a resposta. O menino estava apavorado. Os dois tremiam. Larga ele. Tão pra se cagá nas calça, pediu a mulher com penosamente. Ele o largou dando-lhe uma bofetada na cabeça. Os moleques pegaram a bicicleta e disparam como um raio.
Acalmaram-se os ânimos. Entraram na casa. O  que foi aquilo, pai, perguntou um dos filhos. O moleque passô e deu um tapa na bunda da minina, vê se pode uma coisa dessa?! O sujeito tem que sê homi. É isso que eu ensino pra vocês todo dia. Os filhos fingiam ouvir a mesma “ladainha” de sempre.
Foi para o banheiro. Lavou as mãos. Sentou no vaso. Lembrou da morena. Baixou as calças. Começou a agitar o vai-vem. Lembrando o estalado da bunda que ecoou na rua. Acelerou o vai-vem no membro petrificado. Tentando visualizar a bunda se espalhando em ondas no seu imaginário. Tentando ouvir o eco da bunda se espalhando em ecos pelas paredes do banheiro banheiro.   

Um comentário:

  1. Bem típico da nossa sociedade machista e hipócrita... Magnífico!!!

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