terça-feira, 15 de março de 2011

A ponte do rio que cai

A ponte do rio que cai


Mãe, prenderam o Fernando.
É o quê minino?
A policia levô o Fernando preso.
Que cunveça é essa, meu fie?
Ele tava lá no Gil cum o Henrique. Aí, a policia chegô e levô eles dois algemado.
Minino conta isso direito. Quem é Henrique?
É o goiano, que estuda cum ele. Foi inda gorinha.
Como assim? Como foi isso?
Eles tinha saido da UEMA e foram pro Gil bebê. Ele o Henrique. Demorô uns quinze minuto e a policia chegô algemano eles dois.
Minino... e foi assim do nada?
Do nada! Só chegaro e levaro. Num sei que merda foi aquela, não. E ôta; o Edvan já tava dentro da viatura algemado, também.
Valei-me minha nossa Senhora, o que é isso meu Deus do céu!?
Vô lá no Gil vê isso direito.
Minino, esp...


Três meses antes
(A idéia)


Bar do Claudeci. Um bêbado tenta se equilibrar na cadeira. Em uma mão, um copo de vereda, na outra, uma colher de pedreiro encrespada de cimento seco. Ele joga a cabeça para um lado e  vomita enquanto os três têm uma conversa abafada pelo som de Jorge e Matheus. Já vão passando de meia grade de Antarctica.
Já sei. Vai ser com uma corda.
Como assim? inforcá ele, é lôco?
Nã, animal. Tu num disse que ele vem pra cá de moto escondido da tua mãe torá um gato véi lá da Vila Nova?
É.
Então! Agente pega ele lá na ponte.
Êita, ponte do cão. Eu trabalhei nela, sabia?
Tá bom, meu sinhô. Porra, que bêbo chato do caralho.
Sim, meu fie, como?
Eu fico de um lado e tu fica do outro. Agente segura uma corda grande. Eu numa ponta e tu na outra.
Vocês já tão é chapado, mermo? Que porra de cunversa é essa?
Tipo, o que os mala fais pra robá moto, é?
Exatamente! Assim não tem como ninguém discobrí. E a gente nem vai sujá as mão cum aquele nojento. É rapidão.
Eu quase morro na construção daquela ponte. Mas, ela é do Jackson. Num é da Roseana, não.
Rapá eu vô dá um pau nesse pé inchado, moço.
Uai, lôco. Calma, o cara tá chapado. Mas, que dia? E a gente vai como?
No carro do pai do Fernando.
Do meu pai? Tu é doido, é? Vai se fudê, num vô entrá nessa merda, não.
Pió, Fernando. Vamo lá, porra. Tu só vai dirigí.
É, moço. Relaxa. É o siguinte: o Henrrique diz pra mãe dele que vai durmí na tua casa. Tem que sê num dia que o negão fô na casa da rapariga dele. Aí, tu pega o carro pra gente tomá um gelo, aqui no Claudeci. Espera dá mais ou menos a hora do negão vazá pra Bela Vista, e espera lá na ponte com a corda. Tu só vai ficá no carro esperando ele caí e a gente entrá no carro. Pronto, moço. Morreu Maria preá.
Pió, fie. Assim fica como se fosse uma tentativa de rôbo, né?
Mas tu é inteligente, né goiano corno?!
Vá se fudê!
E aí, Fernado? umbora?
Só se vocês botá umas grade no meu aniversário, semana que vem.
Beleza.
Uma grade? Onde é?
Rapá... Ê, Claudeci, traz mais uma gelada aí e volta o DVD do começo. Rapá, eu vô largá a mãozada nesse bêbo...
Te senta aí, lôco. Dêxa o cara.

A imprensa


O alvoroço é imenso dentro da delegacia. Uma penca de repórteres se amarrotam entre outra penca de policiais e curiosos. A suadeira coletiva exala um odor quente de azedume humano. Os três estão sentados num banco de madeira. Camisetas cobrindo os rostos. Algemados.

 Henrique e Fernando estão unidos pela mesma algema. Fernando chora incontrolavelmente. Edvan Tem os pés em cima do banco e a cabeça enterrada entre os joelhos. Uma repórter loira consegue a proeza de se aproximar, com muito esforço, e enfiar o microfone dentro da camiseta de Henrique.

Porquê vocês fizeram isso?
isso o quê?
Matá um cidadão lá na ponte?
Sô só suspeito, uai. 
Um dos seus comparsas admitiu o crime. E aí, o que tem a dizê?
Num vô dizê nada, oh. Tira esse trem da minha boca!
Hummm, tá veno aí, minha gente. Ainda é arrogante. Tá veno como é as coisa minino da câmera? Pense num rapais bruto. Vamo falá, aqui, cum o sargento Ribeiro  que comandou essa incrível operacão que resultô na prisão dos suspeitos. Sargento, recebemos a informação de que um deles confessô, é verdade?
Positivo. Chegamos até os meliantes através de uma investigação minuciosa. Os meliantes se incontravam num bar nas proximidades da UEMA.
É verdade que eles são universitários?
Positivo. Segundo um deles, eles estudam na UEMA, fazem curso de medicina veterinária.
Vocês já sabem o motivo do crime?
Ainda não. Mas, encaminharemos os meliantes para que o delegado de plantão possa tomá as medidas cabíveis e interrogá os meliantes a respeito desse grave agravante.
Pois tá aí, minha gente, tá aí a polícia mais uma vez de parabéns pela captura desses... dos suspeitos de ter ceifado de forma disumana, a vida de um serumano. Pense nuns minino ruim.

Dois meses e meio antes
(Da prática posta na ponte)


Mustang Drink's. Casa cheia. O sertanejo universitário e as tegarelices de vários "famistas", comendo espetinho abafam, mais uma vez, a conversa dos três.

E aí, goiano, tu falô pra tua mãe que ia dormí na casa do Fernando?
Falei. Tá de boa.
E o negão?
Tá lá em casa uma hora dessa. Mas, ele vai vim pra casa da puta dele. Só vai disdobrá a mãe dizeno que vai pra casa e pegá a moto pra descê.
E que hora ele volta pra Bela Vista?
Umas doze e meia.
Mas, é certo?
Acho que é.
Porra, tu acha?
Ah, fie, num tem como sabê a hora exata, não.
Porra, agente tem que achá um jeito de sabê quando é que ele vai saí.
Rapá, vamo fazê o seguinte: eu fico veno a hora que ele vai saí da casa da muié. Daí, eu telefono pra vocês.
E quem é que vai dirigí?
O goiano.
Sim , meu amigo, e quem é que vai segurá a ôta ponta da corda?
Ah, doido, se vira lá. Já pensei foi demais.
Pronto. O goiano fica no volante e eu amarro a ôta ponta na grade da ponte. É até melhó. Fica mais firme, a parada.
De boa então.
Beleza. A corda tá no carro.
Porra. O pai disse pra mim vim cedo pra casa.
Relaxa, moço. Vamo só na ponte e volta. Senta aí, vamo tomá uma. Quando dé umas onze e quarenta a gente te dêxa perto da casa da rapariga e vamo pá ponte.

...

Bicho, se isso num dé certo?
Rapá, Fernado, que porra. Parece que tá agornano a parada.
Sim, moç...
Moço tu num vai fazê nada. Só vigiá o negão.
Pois umbora logo. Já é mais de onze.

Deixaram o Fernando numa budega perto da casa da amante. A moto ainda estava na calçada. Sentou-se e pediu uma cerveja.

Quando ele saí tu liga, porra. Num vai vacilá, não.
Tá, tá bom. Vão logo.
...
Espera... tu tem crédito?
Tu num tem não?
Tenho não, ó doido.
E comé que tu ia ligá, disgraçado?
Ôxe. À cobrá.
Ah, meu pau.
Eu tenho, porra, vamo. Pode ligá pro meu.

Voltaram pro Mustang a fim de recaptular todo o prossesso na ponte, além de fazerem questão de serem vistos ali, bebendo tranquilamente. Henrrique lembrou-se de ter trago na mochila um par de luvas de couro grosso de um dos vaqueiros da fazenda de seu avô.

Pra quê essa luva?
Touxe pra ti. Pra tu pôr quando segurá a corda.
Pió, maluco, senão corta a minha mão.
Pois é, fie.
Papá, tu é inteligente mermo né, barrão cumedô de piquí?
Seu cú.

A música Sinais de Luan Santana emitira-se do bolso da bermuda de Edvan. Era seu celular chamando.

Vê se é o Fernando.
É. Fala. Agora? Tá, tá bom.
E aí?
O negão tá na porta cunveçano cum a muié. Vamo, logo. 

Pagaram a cerveja e entraram no carro às pressas. Chegaram rapidamente na ponte. Estava escura e deserta, como esperado. Pararam pouco antes da sua metade. Edvan amarrou firme a ponta da corda na grade de segurança. Luan gemeu, mais uma vez, de seu celular.

E aí? Beleza.
Era ele?
Era. Disse que o negão já vazô de lá.
Então eu vô lá pra frente e tu fica aí intocado.


Edvan estendeu a corda até o outro lado da ponte e pôs as luvas. Sentou-se no acostamento. Queria fumar, mas o cigarro ficou no carro. Pareceu esperar uma eternidade até avistar uma centelha vindo. Apurou a vista pra ver se era um único farol. "Tem que ser só um. Só serve se fô um olho", pensou, tentando controlar as leves tremulções de suas mãos. Era só um farol. Só uma moto. Só sua deixa.

Levantou-se, pegou a corda e a passou em volta de um dos grossos cabos de sustentação. Teve a estranha paciência de levantá-la para calcular a altura do pescoço. Baixou-a novamente e ficou encolhido. Colocou apenas o rosto a mostra para saber o momento certo. Segurou até pouco menos de dez metros de distância entre ele e a centelha que vinha. Segurou firme e suspendeu a corda. O motoqueiro vinha tão rápido que o impacto de seu pescoço na corda fez Edvan dar um pulo pra frente. Mas, foi o suficiente para seu capacete sacar, a moto seguir um curto rumo ignorado até capotar e cair no acostamento e o motoqueiro dar uma pirueta desingonçada e mergulhar de cabeça no asfalto.

O "acidente" foi tão rápido que Edvan só pôde ver o sujeito estirado no chão e a moto bem à frente, ainda funcionando. Ele não ousou chegar perto do corpo imóvel. Atravessou pro outro lado enquanto enrrolava a corda e desatou o jogando-a no rio. Correu em direção ao Henrrique que já voltava a toda velocidade. Entrou no carro já procurando os cigarros. Os farois iluminaram o corpo que estava de costas para eles. Henrrique pensou em passar por cima para garantir o serviço. Mudou de idéia no último instante. Não teve coragem. Tentou tirar o carro, mas, os pneus ainda esmagaram as pernas. Pisou no acelerador com vontade. Novamente o gemido de Luan chamou no celular.

A gente já tá ino, porra. Tá, tá. Tamo chegando aí.
E aí?
Ele pegô um moto-taxi e foi pas pexaria. Tá idignado.
Nã, fie. Tô falano do negão. 
Quê que tem?
Ora, o quê que tem?! Como foi?
Oxente! O cara caiu e pronto.
Será que ele tá morto, mesmo?
Rapá, se num tivé é porque tá cum a besta-fera.
Caralho. Inda bem que num fez muita zuada. Eu quase num ouvi.
E eu, que num vi foi nada.
Como assim, lôco? Tu num tava lá?
Tava, porra. Mas, foi ligêro demais.
Relaxa, fie. Vamo tomá uma na pexaria.
Nã, doido, vô pra casa.
Sim, moço. só uma, aí a gente desce.
Bicho, tu mãe gosta, mermo, do negão, né?
Tu é doido?! Parece até macumba. Mas, tá de boa. Daqui uns dia ela esquece ele.

Na manhã seguinte Edvan foi acordado pelo velho gemido de Luan ao lado de seu traveseiro. Já era a quinta gemida até ele ouvir. Pegou o celular de olhos fechados e atendeu. À cobrar. Retornou.

Oi. ... O quê? .... Como assim? ... Ela tava cum... .... Mas, eu... ... Caralho. ... Não, eu só puxei e saí for... ... Merda. Será quem era?

Já eram dez. Henrrique e fernando ainda dormiam. O "goró" na peixaria se estendera, um pouco. O sono fora cortado pelo chamado do pai de Fernando.

Ê, rapais, acorda. Tão te chamano aqui fora.
Quem, eu?
Não. O goiano.
Eu?
É.
Quem é?
Acho que é tua mãe. É a tua cara?!
Uai, minha mãe? O que ela qué aqui?
Sei não, mas tá apressada.
Tá, eu já tô indo.
Merda, será...?
Nem me fale. E aí?
Vô lá, uai. É o jeito.
Segura a onda, doido. Fica de boa.
Eu sei, eu sei.

Vestiu a calça, limpou as remelas com as unhas e se levantou. Antes de chegar na porta do quarto olhou pro Fernando sentado na cama em expectativa. Serrou os lábios e fez uma afirmação positiva com a cabeça. O sono se esvaia a cada passada que dava na sala. O pai de Fernado o esperava na porta a fim de não deixar o cachorro escapara pra rua. Ele cumprimentou-o e chegou na área.
 Viu a parte traseira da caminhonete do avô. Atravessou a área e chegou na rua. Viu sua mãe no banco do carona e seu namorado com a cabeça recostada no volante. A cabeça que deveria estar quebrada no meio da ponte. A mãe o olhou com desaprovo.

Meu fie, isso é hora de acordar na casa do zôto?
É... é que a gente jogô video game até tarde.
Pois entra no carro logo. O teu vô tá uma arara, lá na fazenda. O Riba vêi me dêxa no consultório pra mim fazê uns exame e ocê tem que ir cum ele comprá ração e levá pro seu vô. 
Peraí que vô buscá minha muchila.
Anda logo, minino.

Ele entrou rápido e fechou a porta do quarto.

O negão tá lá fora cum minha mãe.
O quê?
Ele tá lá fora, porra.
Como assim?
Num sei, ué. 
Que porra...?
Eu tenho que ir. Liga pro Edvan.

Riba, o "negão"


Riba a beijou forte nos lábios e subiu na moto promentendo pegá-la de manhã bem cedo. Iria deixá-la no consultório para cuidar dos últimos detalhes de sua redução de estômago. Fez que foi pra casa, mas passou direto. Entrou numa estradinha de chão que dava pra pista que entrava na ponte. Foi pra Imperatriz. Pra Vila Nova. Pra outra. Tinha pressa em chegar. A outra era impaciênte. Pudera! Ela não sabia muita coisa dele. Se era casado, emancebado, se tinha emprego. Se tinha dinheiro.
Ele se gabava por ter uma bela galêga goiana na sua. E ainda sim, se dava ao luxo de usufruir de guloseimas baratas na cidade ao lado. Ele. Um reles pião piauiense. Chegou rápido, desceu da moto e bateu na porta. Ela saiu com uma camisola de algodão. Baixinha, morena de pele achocolatada, cabelo bagunçado, quebradiço, cheirando a colcha de cama esquentada. Ia esbravejar. Ele foi rápido em beijá-a e calá-la. Entraram. 
Ele foi rápido, mas eficiente nas carícias e atenções. Tinha que acordar cedo. Já ia dar meia noite. Abraçou-a mais uma vez na calçada prometendo levá-la pra sair no dia seguinte. Deu partida e sumiu na esquina. Chegou na BR, atravessou, passou em frente a rodoviária. Sentiu o cheiro da panelada correndo pela pista. Lembrou que não havia jantado. Deu meia volta quando já estava em frente o aeroporto. Se ajeitou em uma das banquinhas e pediu um prato com um adicional de sarapaté de bode. 

Da investigação


Reginaldo havia sido promovido, recentemente, a cabo da polícia militar. Adorava quando alguém o chamava de cabo Machado. Costumava pingar de boteco a boteco pra bebêr umas latinhas antes de ir atrás de umas "éguas" no "curral".

 Uma dessas pingadas era no bar Do Claudeci. Desceu de sua Bross sem placa. Uma geladinha aí, jogadô, pediu ao propriétário. Sentou-se numa mesa perto do balcão onde três homens sujos tomavam doses temperadas. Ao lado dos copos havia ferramentas sujas de pedreiro. Conversavam sobre o Ronaldinho gaúcho ir para um circo, e não para o Flamengo.

O cabo da PM ouvia sem escutar, olhando pro buraco da latinha enquanto a balançava de leve. O pedreiros agora falam sobre um tal trabalho à vista, aquele que ainda falta terminar, ou aquele outro que foi mais irritante que a constução da bendita ponte. Ao tocarem nesse último assunto, um deles disse que, certa vez, passou raiva com uns moleques que o desrrespeitaram. Logo ele, que é trabalhador, pai de família. Só porque eu tava bêbo, porra, disse injuriado. Como foi isso? perguntou um dos amigos. Eles tava alí fora bebeno. E eu tava ali do lado tomano uma. Daí cumeçaro a falá da ponte, de derrubá cum uma corda num o quê mas lá. Num lembro direito não. Eu tava só a bosta. Mas, mermo assim, esse povo de hoje num respeita ninguém mais não.
A última parte do relato do pedreiro chamou a atenção do cabo. Ele perguntou ao pedreiro que dia foi o episódio. Rapais, já tem uma semana, maisomeno, eu acho. Perguntou se os conhecia. Ele disse que nem lembrava da cara daqueles "imundo". Como assim, esse negócio de derrubá cum corda na ponte?, inssistiu o cabo. Moço, eu tava bêbo demais e... espera aí. Êi, Claudeci, que dia foi aquele que eu vomitei tua calçada todinha?, perguntou o pedreiro sem serimônias. Rapais, acho que foi... quinta... não. Sexta. Foi sexta passada, nojento, respondeu Claudeci com uma brincalhona cara de nojo.
 Poís é, e tu se lembra dus minino que tava bebeno aqui fora? Parece que era três. Lembro. Tu abusô eles pá carai, aí. O cabo não perdia nada da conversa. Quem é aqueles muleque?, continuou o pedreiro. Rapá, eles são da UEMA. De vez em quando eles vem aqui. O cabo pegou o celular sem alarde e foi pra calçada. Alô, sargento?! 

O motivo


Anápolis. Goiás. Minerva Casara-se com seu belo primo, paixão de infâcia. Foi um belo casamento sortido e abeçoado pelo pai, um rico proprietário de extenças terras onde cultivavam o plantio de tomate. Não tardou a chegada de um filho. O querido xodó de todos, Henrique.
As mil maravilhas foram se esvaindo com desgaste de um casamento prematuro. Ela engordou demasiadamente. O pai não ia bem com as plantações. Vendeu as terras e se aventurou em outras que estavam começando a crescer. Foi parar em Bela Vista do Tocantins. Quando ela se deu conta, o primo que se tornára seu marido agora era seu ex. Sozinha e com o Henrique em fase de crescimento, se viu na obrigação de partir. Lá estava ela na porteira da fazenda do pai.
O velho se dera bem com as águas do rio Tocantins. Investira em gado e criatório de tambaquis. Como o sangue fala mais alto, acolheu a filha e o neto. Como um autêntico goiano, Henrique cresceu rapidamente. Estudou e conseguiu passar pro curso de Medicina Veterinária, na UEMA. Foram comemorar na Praia da Belinha. O velho, todo orgulhoso, convidou todos os piões. Era cachaça pra lavar os pés. Minerva contente emborcava com gosto. Foi lá que viu, direito, o Riba, um dos piões. Riba percebeu os flértes e procurou agilizar. Deu certo.
O namoro começou dali. O velho não admitia sua filhinha se emancebar com um preto cachaceiro. O demitiu. Não adiantou. Bateu o pé até cansar. Se cansou. Henriquei não conseguia se cansar. Volta em outra, ele encasquetava com o namorado da mãe. Sempre quando saia da UEMA com uns amigos de sala, Henrique relatava que quase saira no braço com "aquele preto discraçado". Já era corriqueiro vê-lo revoltado por ver sua mãe, "uma mulher nova, linda, de olhos verdes..., uma goiana de família tradicional, se agarrá cum aquele macaco nojento".
Os amigos sempre ouviam calados. Pricipalmente o Edvan. Ele não a tirava da cabeça desde a primeira vez que a viu. Certa vez, em um desses depoimentos revoltados de Henrique, Edvan fez uma propósta com um ar de graça para ele.

Ê, goiano, eu tenho uma idéia.
Idéia?
É. Tu tem raiva do negão. E eu também. E tu sabe porquê que eu tenho, num sabe?
Sei, mais e daí?
A gente mata o negão, eu fico com tua mãe e aí vô sê teu padrasto.
Hahahahaha. Já pensô? Ia sê massa de mais, fie. Tu sê meu pai.         
 
























11 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. E tudo por culpa desse sertanejo universitário que nunca se forma. Adorei a repórter, só que ela tá quase um professor Pasquale aqui, próximo ao que ela é na realidade.
    Justo minha terra natal (Anápolis) ...
    Eu não sei como uma mãe pode comemorar sabendo que o filho vai passar a vida toda capando gato..kkk
    otémo todo.

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  3. Seus personagem estão muito estereotipados. Caricatura funciona bem, porém não exageradamente. Seu texto é muito bom, tanto regional quanto universal, mas falta deixar de ser caricato.

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  4. Mui grato pela preocupação, mas foi intencional caricaturar essas caricaturas encaricaturadas pela vida.

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  5. Ué!!!!!!!! Mas a vida não é uma caricatura? Até o próprio Gonzo faz questão de ser caricato. O pior é que o Gonzo é a caricatura da caricatura, pois o Sade francês (original) do século XVII era uma caricatura de François de Sade o marquês.
    E quanto ao texto, o estilo está ótimo, se limpar a caricatura se torna um dramalhão, e aí perde a graça e a originalidade. O anônimo que fez a critica é muito conservador e academicista, e o texto é pós-pós moderno. Humm !!!!! Talvez seja inveja do anônimo.

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  6. Salve Gonzo,

    Que história de tramas perfeitas.

    Senti como se estivesse lendo o Hitchcock, tramas e nuanças muito bem descritas em tua história.

    A vida tem mesmo personagens, iluminações e decisões que podem mudar o script de tudo.

    Continue a nos encantar, descrevendo novas ópticas, coisas que as vezes nem percebemos nesse mundo nosso de cada dia.

    Muito obrigada pela visita, espero que volte sempre.

    abraços

    Jana Cruz

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  7. Acho que conheço esse anônimo...estudando o comentário, o tipo de abordagem...isso é coisa da xiquita bacana...(salvo o engano).

    Caricato,
    é o &$#aralho,é o Brasil poder ajudar a economia de Portugal (esquecendo os de casa), é uma multidão pró KADAFI,é a briga entre chico do zoião e o sr. paraguai, é o que disse o dep. JAIR BOLSONARO (vide net), é esse texto ser longo pra caralho kkkk, é a falta de impressora pra eu imprimir o boleto de 15 rélas pra comprar o chopp e as fritas no boteco.

    OLHO DA XV.
    Gonzo meu nobre...ói pro tempu....nunca ouvi o corró na radio imperatriz...kkkk.
    um abraço.

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  8. Também acho que sei quem é essa tchutchuca anônima.

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  9. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Baseado com "baseado" em fatos reais!

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