sábado, 23 de abril de 2011

Pizza e "facada" na madrugada

Pizza e "facada" na madrugada


Compraram os ingressos antes? Não? Tudo bem. É só trinta conto, agora. Ainda não dá pra sentir ela entrando no rim. Entrem e sentem-se. Por virem cedo, peguem uma mesa boa, de frente para o palco, mas, cuidado! Na ala direita tem uma fita vermelha lhe impondo um apartaide. Você não pode passar, não possui a pulseirinha vip. Pronto, já podem sentir o frio da lâmina passar pelo lombo e roçar o rim. Relaxem, peçam um balde de "Rainequím" gelada e curtam o CD do Pilantropic... Ô! Pilantropia, enquanto a banda Pilantropia não sobe no palco.

Dêem uma olhada pelo ambiente "aconchegante", espiem as garotas de maquiagem igual, decotes iguais, penteados iguais, pernas, bundas, tatuagens iguais. Peçam uma pizza de frango com catupirí e bebam com moderação, pois a cerva custará por volta de seis reais a unidade. Tudo fica registrado naquela maquininha do garçom.

A casa já está entupida e o calor "humano" começa a abafar o recinto. Já houve um número de facadas consideráveis nos rins, o CD da Pilantropia é retirado para dar espaço a apresentação ao vivo da Pilantropia. Bela execução, convenhamos. Bela performance do vacalista com sua calça retentora de peido. Bela execução do guitarrista a lá Calcinha Preta, com sua chapinha-metal.

As horas passam, assim como os gaçons com suas bandejas a atender as demandas. E que demandas. Demandas peculiares. Mesas que pedem cerveja num longo "copão" que vai de encontro ao céu, onde, na extremidade de baixo há uma torneira, onde pode-se notar inscrito na testa desses clientes: "Vejam onde bebo minha "Rainequím". Bebo num imenso copão por ser desprovido de pau". Mas, se quiserem se "amostrar" com mais decadence avec elegance peçam para o garçom trazer na bandeja uma garrafa de Red Label com um daqueles pé-de-moleques dos grandes, aceso, amarrado no gargalho.

Pilantropia já vai esgotando o seu repertório e o Lobão não chega. Já começa a tocar aquelas músicas românticas que as empregadas domésticas costumam ouvir num radinho pendurado na bateria de alumínio, enquanto lavam a louça, apaixonadas por seus "cumelões". Em meio ao começo da impaciência do povo, a tagarelice de um loc-roborzinho, dos metaleiros na beira do palco, aglomerados junto ao guitarrista Calcinha Preta, de braços estendidos rumo a sua guitarra como um bando de leprosos que necessitam tocar o manto de Jesus, ao cheiro de frango com catupirí, o vocalista pilantrópico despeja um discurso anti-drogas, e a união da família. É aplaudido pelas famílias unidas em volta de uma enorme pizza. Após os aplausos o vocalista canta Bichos escrotos dos Titãs. Pilantropia já repete o seu repertório e o Lobão nada.

Pilantropia já não pode, mais, continuar. O coro "Lobão, Lobão" já vai se tornando agressivo. Descem do palco e o som mecânico entra em cena, novamente. Metallica, dessa vez. Load e Reload. A faca já está quase toda dento dos rins. Mais algumas horas passando. Recebemos informações de que Loooobãããão já está aqui em Immmmperatriiiiz, tagarelava algum loc-roborzinho, em nome da casa. Lobão, Lobão era o que gritavam com frequência. Load e Reload do Metallica era o que se ouvia com frequência.

O povo já começava a ir embora. A confusão  era crescente na portaria. Devolução de ingresso, se não, haverá processo, caralho! Muitos se foram, esfaqueados no rim. A madrugada avançava, Metallica não parava e meu vinho já se esgotava. Sim. Meu vinho que comprei no Pêxe Pôde, pus em umas garrafinhas pet e escondi na bolsa de minha garota. Não queria sentir o gélido amargor da facada em meu rim. Mas, na minha última garrafinha pet de vinho, ele apareceu.

Ele apareceu, meus irmãos. Ele. Com suas 50 sextas-feiras da paixão nos couros ele subiu no palco. Explicou o porque da demora. Dos percalços da viagem de ônibus da banda, de sua vontade de cantar aqui, na Imperosa. Não precisava se desculpar. Ele é o velho lobo. Não precisava. Foram poucas as pessoas que o viram. Melhor assim. Ficou mais seleto. Mais Rock and Roll. Ele subiu inteirão, e rasgou o seu  uivo. Mesmo levando alguns choques nos lábios, ele rasgou o seu  uivo. Pizza e facada na madrugada. Estava amanhecendo. Eu lacrimejei, meus caros, em A vida é doce, terminando de beber meu vinho que comprei no Pêxe Pôde e levei para lá clandestinamente. Fazer o quê, não? Vida bandida. Foi lindo o amanhecer. Mesmo ele cantando alí.    

24 comentários:

  1. A mistura das impressões pessoais, de ambientes, sentimentos e olhar crítico enriquecem o texto. Tive impressões muito semelhantes de tudo. Puta texto.

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  2. traduziu muito bem a noite à espera do lobão! gostei garoto! rs

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  3. Decadance avec elegance(sui generis, meu caro!).
    Vai demorar, pra conseguirem receber um tipo de show desses, com tudo que é necessário. É tudo diferente, começando pelo público...mas a vontade de prestigiar um artista (de verdade) fala tão alto que o fato de Imperoza ser apenas uma grande provincia (como tu sempre fala), passa a ser completamente irrelevante. Enfim, não precisa ser mãe Diná pra saber que outros episódios, como esse, ainda ocorrerão, infelizmente. "E quem é que vai pagar por isso?" Adivinha? (mando as 3 garrafas de Opa Bier pra ti, por sedex, se tu adivinhar...) Hahaha! Abraço, meu nobre Lorde! ;)

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  4. Porra, me lasquei à noite do Amarante pra Vila, chapado de trabalho, com o cu doendo sobre o banco da moto míope, arriscando ser atropelado por um jumento nas curvas do povoado Genipapo, mas chegei e ainda derrubei dois Joãozinho Andador, e lá pelas tantas, puto, já tava maquinando escrever nos papiros romanos um manifesto à la Massacre do Realengo e matar doze metaleiros, mas eis que El Lobon apareció, muchacho, apareció e me sussurrou, com o dia amanhecendo, que valeu a pena cada lance, El lobon me confessou, com os lábios elétricos, que a vida é doce, depressa demais.

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  5. Puta que o pariu!!!
    Nunca tinha pisado na città eterna (roma...nos), pelo povo e pelos sertanejos universotários...levei a muié.
    -vombora cedo que vai lotá, pegar um lugarzinho perto do bolsonaro, deparo-me com a área very important meu p@%@*% ficamos em uma mesa na lateral, dezenas de pessoas que não conheço, a maioria jovem...dizendo que curtem lobão e anos 80. Enfim, hoje em dia está mais para punheta, Smirnoff Ice e Restart.
    Já estava ligado desde cedo...a muié já adormecendo no peito, 04 da matina e nada...empurra portão, xinga gerente, porteiro, gargalhadas e 10 dilmas pela noite...comprei antecipado, 40 dilmas...saí com 50 dilmas...o cara virou pra mim e perguntou - e os 10? - respondi! bota na conta do lobão.

    Mais uma vez parabéns pelo conjunto de letras.
    P.S o cara que eu considerava desenrolado, vacilou feio, deveria ter subido ao palco as 2 da matina e ele próprio conversado com o povo.

    OLHO DA XV.

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  6. Levei algumas facadas de leve por conta de garrafas de água mineral, senti muito sono e meu cigarro acabou no meio da noite. Mas a cada clássico tocado pelo Lobão valeram todos os minutos e bocejos da espera.
    Gostei muito do texto!

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  7. Muito bem Jairo, como sempre irreverente e sagas. Gostei muito, e saber q aguentou um show com feeling e pesado.

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  8. Wow! Assim é capaz dele voltar!!!

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  9. Massa velho, um retrato perfeito da noite, hipocrisia elevado aos extremos na noite imperatrizense.
    Se o show fose no velho "Claudacir" agora "Bar Poli" o Lobão estaria lá antes do entardecer.

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  10. Não fui no Show, mas como já vi toda essa papelada noutras cenas, sei que tú debulhou bem a esculhambação...e convenhamos O Lobão não merece!

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  11. Essa saga aí do Sade me fez relembrar outro episódio da minha vida, agora já no meio dos anos 90' quando do Primeiro Rock 'n Imperatriz, fato esse acho que já esquecido pela memória roqueira aí de imperoza , eu já com meus 28 anos ( ou mais), essência roqueira a mil, e aí fui ver nada mais nada menos do que cinco bandas de rock, três das quais de sucesso nacional, entre elas Barão Vermelho (já sem o cazuza, óbvio )que fechou a noitada entrando no palco às 4:45 da madruga e encerrando às 06:00 horas com nada mais nada manos com "Pro Dia Nascer Feliz".....Foi demais... E hoje sou apenas um roqueiro aposentado ( como diria Dylan Gonzo ).

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  12. Querido Jairo,
    Bacana o seu texto sobre o show do meu querido contemporâneo Lobão. A falta de infra estrutura,a tal viagem de 21 horas de Teresina para cá, de busum, contribuíram para muita gente ir embora. mas o roqueiros e trangressores não arredaram o pé.Chorei quando ele cantou Cazuza, parceiro e amigão dele. O dia amanhencendo foi demais. Show mesmo. de alma lavada. Imperatriz está mudando e certas setores, como a cultura, precisam se profissionalizar.
    Volte sempre Lobão, mas ele disse nas redes sociais que está chateado, que foi um dos piores shows que fez na vida.
    Mas, para nós, Valeu mesmo Cara, apesar de tudo!

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  13. Agora estou com desencargo de consciencia de não ter ido, o hosp parecia estar melhor segundo a descrição de alguns... rs. ao menos pra rir ta servindo agora, segundo o próprio Lobão, nunca mais volta em Itz (oh novidade) rs

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  14. Walquer, lembrando q na seqüencia teve o Paralamas do Sucesso... estava lá, cheirando a leite....

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  15. Rapá, oq tu tinha?Tava doente?Passou a noite e madrugada inteiras e só consumiu 02 garrafas de vinho?
    Algum problema na família?

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  16. Na verdade foram três garrafas. A bolsa da Nat é igual coração de mãe.

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  17. Pizza e "facada" na madrugada
    Hum.
    Sorriso:)

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  18. acessei uma financiadora pra ir no show, já havia algum tempo que queria sair de casa. No decorrer da noite descobri que o dinheiro que peguei não era o bastante. Resolvi apelar. O cartão de credito queimava a minha bunda: Mesmo assim, senti medo de arrumar mais problemas. Percebi que era possível arrumar uma pouco de bebida e cigarro com pouco esforço e experiência. Resisti ao tempo e ao ambiente. No meio de tudo aquilo, percebi que o Lobão só cantava pra mim. Fiquei constrangido e fui embora.

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  19. Caro gonzo!!
    Narre um pouco do acontecido de ontem, na porta da unisulma, alguns universotários promovendo uma festa...pintaram o zaralho por lá.

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  20. Caro Anônimo!!
    Não posso. Não estive lá. Me conte como foi a esbornia dos (c)unisulmianos. Daí, então, pôrei em minha coluninha.

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  21. É apenas uma opinião particular, mas pra mim os Pilantropias deram de 10 a 0 no velho lobo. No mais, foi um anoite hilária, pelos inúmeros papelões protagonizados. Faltou você falar do esporro do Lobão num carinha que tava pentelhando no equipamento dele.

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