quarta-feira, 18 de maio de 2011

Asfalto quente


Asfalto quente

Um palmo de língua pra fora
Do cachorro que procura a sombra
De um pé de Jorge Tadeu salvador.
Celulites convidativas
Espremidas em shortinhos coloridos
Queimando sob o abafado selim
Da bicicleta que desce veloz.
O pneu careca esfumaçado
Rolando por cima do gato
Que errou o tempo da travessia.
Seu espinhaço torto
Terminando de bolar na quentura,
Correndo de “revestrés”
Rumo ao PVC que serve de escape
Para a água da chuva que não vem.
O menino com a frauda na cabeça
Cochilando no ombro da mãe que derrete.
Um cuspe branco disparado em bala
Efervescendo no meio-fio
Pela ausência de tira-gosto.
Um cavalo com o lombo brilhoso
Puxando a carroça de dois insetos suados.
O sol refletido no retrovisor
Da reluzente Ranger
Radiando o rosto de Renatinha.
A caçamba que segue fervilhando
Numa imagem cozinhante
No limite horizontal da visão.

3 comentários:

  1. Um olhar nervoso fixo no canto do retrato (?) panorâmico da cidade que derrete sob um sol escaldante. Observação filosófica positivista dentro da poética moderna em um tempo de ansiedade tecnológica, sem, no entanto, perder o foco nos detalhes.

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  2. Jairo e sua poesia (Sub)urbana! retratando bem o cotidiano. Seu texto é uma televisão retratando imagens de uma câmera instalada na porta do Claudeci. Ao pingo do meio dia, claro.

    Patrick.

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  3. Deu vontade de pegar a bike e sair pedalando no sol quente.

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