quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Os meninos te esperam

  • Os meninos te esperam


Ela subiu rápido as escadas de mármore surrado. Tinha pressa. As crianças estavam de férias. Não gostara da idéia de deixá-las sozinhas em casa. Percorreu o longo corredor. Estivera naquele hotel, antes. Um serviço não muito recente. Estranhou ser chamada ali novamente.

Divagou os passos nervosos. Lembrou do cheiro forte de bom ar no corredor. Parecia brotar das paredes. Do forro. Do chão. Lembrou que não lhe agradara, da última vez. Não havia se acostumado com aquela sensação. Era um misterioso misto de pavor gélido com um bem-estar desenfreado. Puxou um papelzinho da bolsa. Olhou um número rabiscado. Correu com os olhos para os números das portas. Bateu com o ombro em um extintor preso na parede. Olhou pra traz. Ninguém. Continuou até encontrar na porta o número do papelzinho. Bateu. A porta se abriu. Só encostada. Deu dois passos tímidos pra dentro.


O bom ar penetrou em suas narinas de forma mais agressiva. Não havia ninguém no monótono quarto. O chuveiro estava aberto. Alguém tomava banho. Ela se sentou na beirada da cama. Olhou em volta na tentativa de encontrar as roupas do interessado. Queria saber para qual classe prestaria seus serviços. Não encontrou uma única peça de roupa. Estranhou.

Do banheiro ecoou um assobio alto. Um assovio que lhe penetrou na medula como um filete de gelo, fazendo-a contrair o esfíncter de pavor. Ela conhecia aquela canção assoviada. Havia quinze anos que ela ouvia todos os dias, aquela melodia "chata" e corriqueira. As quatro paredes do quarto pareceram lhe esmagar o coração quando o interessado saiu do banho enrrolado na toalha. Ela ficou paralisada, pálida. Lhe faltou o sustento das pernas.

Ah, já chegou? Tive que tomar outro banho de tanta ansiedade. Me falaram tão bem de ti, disse ele tranquilamente desenrolado a toalha e acendendo um cigarro. Sentou-se na cama puxando, com jeito, seu braço amolecido. Senta. Vai ficar aí que nem estátua? Não foi assim que me falaram que tu era, não. Vem cá, puxou-a com um pouco de força sem ser rude. Ela desabou na cama como um pesado boneco desengonçado. Olhou nos olhos dele. Não eram dele aqueles olhos de brilho fosco.

Me falaram que tu faz coisas que até o diabo duvida. Fiquei louco. Sabe como é, né? A esposa nunca faz tudo o que a gente quer. "Nããã, tá louco? Isso é nojento..." ou "Nããã, aí dói demais... e bla bla bla", é foda. Daí então, eu pensei em separar uma grana boa pra adquirir um serviço completo. Tipo: Barba, cabelo e bigode, brincou tirando a calça que estava em baixo da cama e puxando a carteira. Retirou um montante em dinheiro e pôs numa mesinha ao lado.

Vamo logo. Tira a roupa e fica mais solta, sussurrou em seu pescoço, desabotoando sua blusa. Pára com isso, reclamou ela começando a chorar baixinho. Não faz isso... Calaboca, safada. Tu é paga pra gemer, não chorar, rosnou ele puxando os longos cabelos dela e enterrando seu rosto no travesseiro. Suspendeu sua saia apalpando suas nádegas com apetite voraz. Desse fio dental ainda não tinha visto. Gostei, disse entre suspiros frenéticos enquanto puxava de lado o fio perfumado e enfiava a cara no meio de sua voluptuosa fresta espasmódica, esfregando como um porco numa bacia de lavagem farta. Introduziu dois dedos em seu róseo orifício relutante. Girava-os como parafuso a fim de relaxar os músculos contraídos enquanto apertava sua cabeça contra o travesseiro, abafando seu choro que o excitava cada vez mais.

Ainda tá chorando? Ora, me falaram que tu pede mais, quando metem aqui, balbuciou levantando-a e beijando seu rosto borrado pela maquiagem diluída em lágrimas. Meu Deus, olha pra ti. Parece uma velha frígida. Eu já vim pra cá fugindo disso. Vem cá, disse tirando sua roupa, quero um tratamento à altura do meu pagamento. A pôs em pé contra a vidraça da janela e empurrou delicadamente em seu botão já amaciado forçosamente. Ela não ousou falar uma palavra. Apenas olhava, entre mechas de cabelo, o lento movimento da cidade, lá em baixo, embaçado por lágrimas em tonalidade escurecida pelo lápis de seus olhos que escorriam pelo vidro. Apenas assistia a normalidade das pessoas trafegando lá em baixo, tentando ignorar aquela fome assustadora que a invadia por traz.

Nunca tive um privilégio desses, lá em casa, balbuciou de forma dócil em seu ouvido, apertando seu fino pescoço. Realmente é uma delícia colocar aqui. Bem que uns amigos meus me falaram. Aposto que todos eles já entraram aqui, não? É sempre assim. Fui o último a saber de ti, não é, puta safada.


Ele retirou rapidamente de seu orifício dilatado, puxou-a para baixo com força pelos cabelos e colocou em seus lábios vermelhos e cerrados. Despejou tudo o que tinha em seu rosto aos trapos. Foi pro banheiro. Banhou rápido e se vestiu. Pegou o dinheiro e espalhou em sua face melada. Toma o pagamento. Te veste e vai pra casa. Os meninos te esperam. Vou tomar uma cerveja alí enquanto chega a hora da janta, disse calmamente deixando-a jogada no chão.

Ela catou cada cédula pregada em seu rosto e jogou no cesto de lixo. Lavou o rosto. Engasgava-se com soluços, lágrimas e o maldito cheiro de bom ar. Desceu as escadas e pegou um taxi pra casa.

As crianças jogavam vídeo game na sala. Ela passou direto e subiu pro quarto. Tomou um banho demorado, pois não parava de chorar. Nunca se sentira daquele jeito. Era demasiado estranha aquela sensação. Desceu para fazer o jantar. Conteve-se na frente dos filhos. Pôs os pratos na mesa e chamou-os. Ouviu o carro chegando na garagem. O papai, chegou, disse um dos garotos. Ele entrou jogando a pasta no sofá. Chegou à cozinha ossoviado a velha melodia enfadonha e corriqueira. Amor tô morrendo de fome, disse, esfregando a barriga,.






























































2 comentários:

  1. É a tara em mais uma de suas facetas... muito bom!

    ResponderExcluir
  2. Ha ha ha, velho! Imprevisível! Muito massa mesmo, cara! Uma dama na sociedade e (literalmente) uma puta na cama. Totalmente Nelson Rodriguiano em A Comédia da Vida Privada. Uma situação muito estranha para se pôr no lugar, mas eu me pus, ha ha ha!

    ResponderExcluir